Esta e a primeira exposicao em Portugal do artista frances Mathieu Kleyebe Abonnenc (Cayenne, Guiana Francesa, 1977). Particularmente interessado nos movimentos de libertacao de ex-colonias portuguesas- Cabo Verde e Guine-Bissau, nomeadamente - e na analise da producao de imagens, entre ilustracao para manuais educativos, reportagens fotograficas e filmes de propaganda, que nos anos de 1960?70 traduziam ideias de revolucao e de militancia, Abonnenc apresenta nesta exposicao uma serie de trabalhos ineditos -com destaque para uma media-metragem filmada no Porto, e protagonizada por Bia Gomes, a actriz principal da maioria dos filmes do famoso cineasta guineense Flora Gomes-, pensados especificamente para as salas do Museu de Serralves. Produzidos durante a sua estadia de tres meses nesta cidade, os projectos partem das suas pesquisas em diversos arquivos e museus portugueses (do CIDAC - Centro de Informacao e Documentacao Amilcar Cabral, a Fundacao Mario Soares, passando pelo Museu Nacional de ... Etnologia) que lhe permitiram, por exemplo, repensar o alcance da contribuicao de Amilcar Cabral para uma Africa libertada, ou reanalisar o trabalho da cineasta simbolo dos cinemas verdade e cinema militante Sarah Maldoror.

Paralelamente a exposicao, serao organizadas mesas-redondas que, atraves dos contributos de artistas, teoricos, designers, realizadores de cinema e pedagogos, reflectirao sobre temas como o cinema militante enquanto ferramenta pedagogica (nomeadamente os filmes produzidos por movimentos de libertacao nas decadas de 1950-60), o design grafico como estrategia revolucionaria (partindo do exemplo da revista Tricontinental) e a relacao entre politicas de mediacao e experiencias pedagogicas militantes (cujo paradigma, influente ainda hoje, e o pedagogo brasileiro Paulo Freire, convidado por Amilcar Cabral para nos anos de 1960 conceber manuais educativos para as zonas da Guine-Bissau sob dominio do PAIGC e, depois da independencia da Guine-Bissau e de Cabo Verde, pensar um modelo educativo global para os paises recem-libertados). O trabalho de Abonnenc podera ser visto ainda este ano na Trienal de Paris (Abril) e na Bienal de Rennes (Setembro).