Exposición en Lisboa, Portugal

The Age of Divinity

Dónde:
Plataforma Revólver / Rua da Boavista 84 / Lisboa, Portugal
Cuándo:
07 mar de 2013 - 27 abr de 2013
Inauguración:
07 mar de 2013
Comisariada por:
Descripción de la Exposición
Artistas: Johanna Billing, Eric Corne, José Drummond, Jan Fabre, Raquel Melgue, Catarina Mil-Homens, João Onofre, Raúl Perez, Ana Rito, Ernesto de Sousa, Pedro Vaz, Liao Chi-Yu, Hugo Barata.

-------------------------------------------------------

-------------------------------------------------------

«En aquel tiempo, el mundo de los espejos y el mundo de los hombres no estaban, como ahora, incomunicados. Eran, además, muy diversos; no coincidían ni los seres ni los colores ni las formas. Ambos reinos, el especular y el humano, vivían en paz; se entraba y se salía por los espejos. Una noche, la gente del espejo invadió la Tierra. Su fuerza era grande, pero al cabo de sangrientas batallas las artes mágicas del Emperador Amarillo prevalecieron. Éste rechazó a los invasores, los encarceló en los espejos y les impuso la tarea de repetir, como en una especie de sueño, todos los actos de los hombres. Los privó de su fuerza y de su figura y los redujo ... a simples reflejos serviles. Un día, sin embargo, sacudirán ese letargo mágico.»

Jorge Luís Borges, 'Animales de los espejos', in Libro de los seres imaginarios.

 

Esta jornada poderia ser encarada como o início de uma estória, um relato ténue daquilo que se poderia apelidar de imaginação manifesta. É uma jornada acerca da nossa condição de seres imaginantes, entidades não governadas por normas da ciência, da razão ou da verdade, mas antes governadas pelo tributo dos sonhos e dos pesadelos na configuração de uma expressão do mundo. No conto de Jorge Luís Borges descreve-se um tempo no qual as criaturas que viviam nos espelhos, ao apoderar-se do espaço terreno que era pertença do ser humano, são novamente aprisionadas e condenadas eternamente a mimetizar e a refletir a imagem do mundo 'real'. Nesta obra do escritor argentino, baseada no mito chinês do Imperador Amarelo e da fauna existente nos espelhos como universo alternativo, somos confrontados com a ideia de 'seres' irrequietos - imagens desobedientes - que se transportaram para a nossa realidade para aí iniciarem a destruição e o caos. Dir-nos-á a história das crenças que, graças a um poderoso feitiço do Imperador Huang Di, os entes foram controlados e derrotados.

 

A estória que se deseja contar cresce da reflexão em torno da relação 'real' - 'imaginário', imagem e reflexo. Ambos os conceitos são considerados como momentos que se nos impõem e que, através da arte, se cruzam ou trocam de lugar, produzindo sombras, aterrorizando padrões de representação, razão ou verdade, fundindo ou deformando relações simbólicas que esperaríamos estáveis. Assim sendo, observe-se o artista como aquele que lança falsificações para a 'realidade real' e também, vice-versa, aquele que aprisiona essa mesma 'realidade' nas representações e nos objetos que cria. A noção de parergon, exposta por Jacques Derrida como o espaço entre - o dentro e fora simultâneos - institui interpretações de simultaneidade, ambiguidade, permeabilidade e contaminação. O artista enquanto pecador demiúrgico, ilusionista e falsificador, xamã e feiticeiro, é consciente da força das imagens que criou durante milénios (e de outras que renovou, substituiu ou raptou) e da sua eterna função em fazê-las coincidir com a imago da divindade. Na sua obra Hyperion oder Der Eremit in Griechenland (Hipérion ou o eremita da Grécia, 1797), Hölderlin apresenta, num formato estruturado por cartas, a nostalgia relativamente aos dramas seculares exaltando a natureza divina, sublinhando um conjunto de forças invisíveis, conflitos, ideais de beleza e de esperança. A noção que temos ao ler algumas das suas passagens, noção essa perfeitamente ilustrada pela luta da independência grega, é a de que, agora, trata-se antes de saber falar com os deuses, estar verdadeiramente ao seu nível («O primeiro filho da beleza humana, divina, é a arte. Nela o homem divino rejuvenesce», Hipérion). O que significa que homem e deuses estão juntos, nenhum se suplanta ao outro, não existe desafio possível. Heidegger, intérprete de Hölderlin, afirma em jeito de epígrafe na sua obra completa «Wege - nicht Werke!», «caminhos - não obras!», intitulação que apresentará em torno de vários dos seus escritos, por exemplo Marcas do caminho (1935-1946) ou A caminho da linguagem (1950-1959). Na sua conferência Hölderlin e a essência da poesia (1936), Heidegger induz uma aproximação da poesia a uma compreensão quasi-instrumental, tendo na palavra poética uma espécie de excelência da palavra em si mesma, do rigor de sentido, a partir do qual a nomeação poética consagra um resvalamento do ordinário para o transfigurado, para o extraordinário (Paul Valéry acerca de Mallarmé afirmará mesmo que a poesia se veicula a um estado anterior à escrita e à própria crítica). Não poderemos, contudo, assegurar que o poeta ou o artista visual - como aqui pretendemos - domina a natureza apenas pelo facto de a nomear ou que a determina através de uma sua representação, mas que tal nomeação é uma escuta sensível a partir da subjetividade criativa, desembocando nos 'caminhos da linguagem', ou seja, nas múltiplas bifurcações de que nos fala Borges.

 

Poder-se-ia também afirmar que em Borges se encontra aquilo que Paul Virilio salientou como a 'inutilidade' dos mapas, das referências, da cartografia, diríamos por assim dizer, da representação. Algumas das linhas de Borges também perscrutam a crença utópica de Virilio na qual, num futuro possível poderíamos encarar esta possibilidade da 'inutilidade', de forma a afastarmo-nos da obsessão com a metafísica e com o virtual (virtual aqui entendido como algo que não se encontra aqui e agora), caminhando na senda de valorizar e testemunhar, antes, a realidade na sua imediaticidade. Ora, como se viu em autores como Kant, Heidegger ou Zizek, é ao homem impossível obter uma experiência direta dessa mesma realidade por existir sempre uma distância ínfima entre a nossa compreensão do mundo e a experiência de estar no mundo. Aquilo que a história de Borges ilustra (e que se pode reler a partir de Virilio) é que a distância entre a apreensão cognitiva da realidade (mundo) e a realidade ela mesma foi algo trabalhado pela modernidade e pela pós-modernidade como uma espécie de 'desertificação do mundo' (por exemplo descrita por Zizek em Bem-vindo ao deserto do real). Passemos então através do espelho e, aí, encaremos o ponto de vista que não reflete, mas que deixa ver através. O que nos chegará primeiro enquanto criaturas que olham: o espelho ou aquilo que vemos nele refletido? Talvez como no conto de Borges, estes 'entes-reflexos' possam agora reemergir do 'ecrã-espelho' como verdadeiras presenças.

 

Assim sendo, e a partir da poesia como pretexto, a exposição THE AGE OF DIVINITY é uma leitura aberta que procura desapontar a esperança de um qualquer literalismo, e que solicitou a cada artista a apresentação de uma obra que envolvesse e que explorasse alguns dos devaneios descritos anteriormente.

 

 

 
Imágenes de la Exposición
Jan Fabre, Requiem für eine metamorphose, 2007

Entrada actualizada el el 26 may de 2016

¿Te gustaría añadir o modificar algo de este perfil?

Infórmanos si has visto algún error en este contenido o eres este artista y quieres actualizarla. O si lo prefieres, también puedes ponerte en contacto con su autor. ARTEINFORMADO te agradece tu aportación a la comunidad del arte.

¿Quieres estar a la última de todas las exposiciones que te interesan?

Suscríbete al canal y recibe todas las novedades.

Recibir alertas de exposiciones

Plan Avanzado

¡Posiciona tu galería o museo a través de nuestra plataforma!

  • Publica y promociona hasta 500 obras de tus artistas.
  • Contacta con tus clientes potenciales desde cada una de ellas ¡No cobramos comisiones!
  • Da mayor visibilidad a tus eventos o exposiciones ¡Te garantizamos un acceso destacado a todas ellas!
  • Accede al Algoritmo de ARTEINFORMADO y mantente informado sobre los artistas con mayor crecimiento en los últimos 5 años.
  • Conecta con la gente del sector como artistas o coleccionistas a través de sus perfiles.
Premio
05 abr de 2024 - 05 may de 2024

Madrid, España

Exposición
20 abr de 2024 - 31 may de 2024

Galería Pedro Cera - Madrid / Madrid, España

Formación
21 sep de 2023 - 04 jul de 2024

Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España

Exposición Online
16 abr de 2024 - 19 may de 2024

Online

¿Quieres estar a la última de todas las exposiciones que te interesan?

Suscríbete al canal y recibe todas las novedades.

Recibir alertas de exposiciones