“Com o suor do teu rosto comerá o teu pão, até que voltes ao solo, pois da terra foste formado; porque tu és pó e ao pó da terra retornarás”. Seja a partir de versos milenares sobre a criação do mundo ou mesmo de aspectos de nossa ordinária vida cotidiana, é certo que os transitórios ciclos da matéria parecem traduzir a experiência humana de modo mais fiel do que, por outro lado, a ilusória e propagandeada noção de permanência.
Pois é justamente a transitoriedade da experiência humana – e dos espaços que criamos – que parece interessar ao artista Alexandre Brandão, que encontrou no bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, um prolífico laboratório de observação e ação sobre espaços, paisagens e arquiteturas de caráter essencialmente transitório. Caracterizada por uma urbanização recente, precária e em pleno curso, a região chamou a atenção do artista para os inúmeros lotes vagos, construções abandonadas e...galpões industriais que atualmente compõem sua paisagem.
“É curioso perceber de que modo os lotes vagos criam, dentro da paisagem do bairro, um ambiente que ainda preserva certas relações com a natureza, mas, ao mesmo tempo, se mostra pronto para a ocupação humana. Trata-se de um lugar em que, apesar da urbanização, a terra, em seu estado natural, ainda está muito visível. E era justamente essa memória dos lotes vagos e das muitas placas de ‘vende-se’ e ‘aluga-se’ que eu tinha antes de me aproximar do bairro”, contextualiza o artista, fazendo referência à progressiva ocupação humana que caracteriza a região do Jardim Canadá e também, certamente, outras periferias urbanas em diferentes pontos do país.
Inicialmente atraído pelas paisagens naturais que servem como pano de fundo à vida no bairro, Brandão não tardou a mudar de planos e ampliar a própria visão sobre o que seria, em seu trabalho, tratado como paisagem. “Com o tempo, comecei a deixar a paisagem natural um pouco de lado e me voltar mais para a paisagem ocupada. Comecei a pensar no tipo de arquitetura que caracteriza esses galpões, nessa geometria que se insere na paisagem natural, e a torna uma espécie de pano de fundo”, explica.
“Uma parte importante do meu trabalho, então, foi pegar a bicicleta, sair andando pelo bairro e tirar fotos dos galpões. Durante esses passeios, passei a observar as tipologias desses galpões e gerar uma espécie de alfabeto que, mais tarde, seria devolvido ao domínio público”, completa Brandão, sobre as imagens que, a partir de então, serviram como referência à ação artística elaborada no decorrer da residência no JA.CA.
Entrada actualizada el el 10 jul de 2017
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