«De formas mudadas em novos corpos leva-me o engenho a falar.» é o verso inaugural das Metamorfoses de Ovídio.
Para a sua segunda exposição individual na Galeria Vera Cortês, André Romão apresenta quatro novas esculturas e quatro novos poemas que têm como ponto de partida a fluidez entre corpos, sejam eles humanos ou animais, culturais ou minerais. Numa fluidez que constrói um sentido mais amplo de união e pertença. As esculturas de Romão parecem surpreendidas na sua transformação, numa mutação de forma e estado. As esculturas head-sculpture-rock e beetle-snakecolumn [cabeça-escultura-rocha e escaravelho-cobra-coluna] apresentam-se como corpos híbridos, pequenos acontecimentos surreais que esbatem os limites entre interior e exterior, físico e mental, humano, sistémico e ambiental.
Firmemente ancorado na poesia, o trabalho de Romão utiliza e apropria materiais de formas especulativas, profundamente enraizadas na herança do Surrealismo e do Barroco, numa prática que pode ser entendida como uma sabotagem contínua de códigos e expectativas.
Em...abundância, um ramo de flores e folhas é feito exclusivamente de espécies classificadas como invasoras devido ao seu comportamento, crescimento descontrolado e grande adaptabilidade a novos climas. habitat apresenta-nos um ambiente de ficção científica no qual colónias de lapas habitam esculturas de Plexiglas moldado.
Quatro novos poemas, um para cada estação do ano, são colocados nas quatro paredes da galeria. A métrica dos poemas segue uma métrica convencionada para Haiku em língua inglesa (5-7-5), com cada verso a não exceder a duração de uma respiração, mantendo assim a escala humana das esculturas. Como se escreve no website do IKEA «Calcula-se que, a cada cinco segundos, uma estante BILLY é vendida algures no mundo.».
Entrada actualizada el el 28 jun de 2018
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