Exposición en Lisboa, Portugal

Late Night Shopping

Dónde:
Galería Pedro Cera / Rua do Patrocínio, 67 E / Lisboa, Portugal
Cuándo:
19 ene de 2017 - 11 mar de 2017
Inauguración:
19 ene de 2017 / 22:00
Precio:
Entrada gratuita
Organizada por:
Artistas participantes:
Descripción de la Exposición
Lullaby Tem um pintor a obrigação de expressar alguma coisa através das suas obras? Samuel Beckett ensaia uma tentativa de resposta num dos famosos diálogos com Georges Duthuit, publicados, em 1949, no rescaldo da II Guerra Mundial, esse acontecimento traumático que as gerações seguintes nos tentaram fazer esquecer, sobretudo através de um contínuo apelo ao consumo. O imperativo categórico de criar teria assim, na opinião do escritor irlandês, de se afastar do plano do fazível com repugnância, pois esta seria a única forma de deixar de estar “cansado das sua façanhas insignificantes, cansado de fingir ser capaz, de poder, de fazer um pouco melhor a mesma velha coisa, de ir um pouco mais longe ao longo de uma estrada triste.” Beckett propôs então um caminho onde se pudesse exprimir que já não havia nada a exprimir, “nada a expressar, nenhum poder para expressar, nenhum desejo de expressar, juntamente com a obrigação de ... expressar.” Qual é então esse dever, se tudo parece empurrar para fora da estrada a possibilidade em criar? Depois do tédio baudelairiano, após o cansaço deleuziano, a tarefa de luto do artista parece ter também chegado ao fim. Hoje é mais plausível aceitar-se o pessimismo de um Thomas Ligotti ou as teorias de Ray Brassier, para quem existe uma realidade independente da nossa mente. E que, porventura, a nossa negociação com o mundo deve ter em consideração esta premissa. A exposição de Gil Heitor Cortesão constrói, tal como tem vindo a acontecer de forma sistemática no seu trabalho, uma espécie de ficção, de contornos científicos, em torno de um tempo fora do tempo, à falta de melhores palavras para descrever o que se passa nas suas pinturas. Intemporais, poderia também dizer-se, não propriamente acerca destes trabalhos, mas antes nessa tentativa de descrever a qualidade inerente a estas aparições materializadas em cores sobre superfícies acrílicas. São, estas, imagens de uma extinção - da espécie, das espécies, do mundo, do universo -, que se fixam na nossa retina. Poderiam vir do passado, tal como parecem surgir do futuro, isto se fosse possível definir, agarrar, fixar, estes estados da existência. Esta é, contudo, uma tarefa voltada ao fracasso. Há um vórtice que, emergindo de uma parede, ameaça tudo sugar para o seu interior. Há um tapete, na mesma pintura, “La Vague”, que parece estar a transformar-se num pântano. Existe ainda uma diferença de planos: um dos lados do quadro parece mais próxima de nós do que o outro, acrescentado assim mais movimento a algo por definição estático. Um jacto de tinta branca dá ideia de nos querer certificar que ainda estamos em terreno seguro: uma obra de arte é sempre uma realidade aparte de um mundo em decomposição. Será mesmo assim? Existe ainda a possibilidade de nos agarrarmos a esta tábua de salvação? Gil Heitor Cortesão coloca-nos do lado de fora, não só enquanto espectadores, mas também na nossa dimensão de consumidores, de proprietários, de detentores de uma verdade. Tudo acontece diante dos nossos olhos, mas, de facto, aquilo que estamos a ver está fora do nosso alcance, foge-nos, tal como neste trabalho, aparentemente vandalizado, os objectos - esculturas, pinturas, mobiliário - são os únicos sobreviventes. Olhe-se em volta e tudo confirma que estamos sós, a enfrentar qualquer coisa que ainda não somos capazes de identificar. É uma solidão que atravessa os séculos. Colocados diante destas montras nocturnas, que parecem, por um lado, liquefazer-se, por outro coagular-se, enfrentamos simultaneamente sonhos e pesadelos. A natureza, o exterior, separa-se, separa-nos, desse conforto do lar, do luxo, de um acolhedor “lobby”. Lembramo-nos, como antecedente, da pintura de Edward Hopper “Seven A.M.” (1948): a desolada montra da loja, ainda fechada, às primeiras horas da manhã, contrasta com o verde da paisagem que surge no lado esquerdo da representação. Descrita pela mulher do artista como uma fachada de uma “blind pig”, lugar nocturno onde se pratica o jogo ilegal, esta obra descreve o vazio existencial, alienado, do pós-guerra. O estado líquido é o próprio da pintura de Gil Heitor Cortesão. As suas pinturas parecem desfazer-se diante da nossa impotência em fazer parar esse processo. Já habitadas pela ferrugem, pelo bolor, pelas nódoas, estas obras envelhecem connosco. Anunciam um perigo e descrevem-no linha a linha, ponto a ponto, desenhando uma espécie de visão pós-apocalíptica: o tríptico “The Blinds” parece captar esse último instante de uma luz que tudo cega, algo próximo de uma explosão nuclear ou de um embate de um meteorito no nosso planeta. Os trabalhos também aparentam terem sido queimados ou estarem no estado inicial de uma combustão. E, embora não dêem uma resposta à pergunta inicial deste texto, eles procuram dizer-nos que o bem-estar, esse tempo de todas as compras tardias, insones, pode subitamente transformar-se num filme de terror. Talvez a letra de “Lullaby”, de Scott Walker, possa ajudar a concluir esta breve meditação: “The most intimate/ personal choices/ and requests/ central to your/ personal dignity// will be sung.” Trata-se sempre de uma questão de dignidade pessoal. A pintura. Óscar Faria

 

 

Entrada actualizada el el 16 mar de 2017

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