No número 10/12 da rua João de Deus, em Vila Franca de Xira, uma casa devoluta do início do século XX foi ocupada no piso térreo por Daniel Blaufuks com a exposição “Léxico”, um conjunto de imagens de pequena dimensão, umas da autoria do fotógrafo, onde não podia deixa de faltar o auto-retrato, outras do seu arquivo pessoal. As fotografias estão colocadas em pequenos caixilhos, em passe-partouts ovais, de época.
A casa está habitada apenas pelas fotografias. Blaufuks faz assim um percurso de memórias, quer do espaço de casa (as fotografias não são daquela casa) quer de vivências, constituindo um “Arquivo e [uma] Observação”, o tema desta BF’16.
Daniel Blaufuks é um dos artistas a quem a Bienal encomendou trabalhos.
Uma das imagens de Blaufuks representando uma escada de caracol, é a imagem representativa da Bienal.
Daniel Blaufuks apresenta:
Léxico pode ser definido como o acervo ou o vocabulário de palavras de um idioma, ou...de uma área de conhecimento, ou seja, todo o universo de palavras que as pessoas que falam uma determinada língua, ou pertencem a uma área especifica, como, por exemplo, a medicina ou a navegação, têm à sua disposição para expressar-se, oralmente ou por escrito.
As teorias linguísticas definem as linguagens humanas como compostas por duas partes: o léxico, essencialmente um catálogo de palavras, e a gramática, um sistema de regras que ordena a combinação das palavras em frases. Os dicionários são tentativas de catalogação alfabética de um léxico, sujeitos a alterações através de neologismos ou pela aceitação formal de palavras vindas de outro léxico, da linguagem popular, do calão ou de gíria local.
Uma característica básica do léxico é a sua mutabilidade, sendo que está em constante evolução. Algumas palavras caem em desuso, enquanto outras são incorporadas ou mudam seu sentido original. Esta mudança é gradual, quase imperceptível e, na sua maioria, iniciada por uma geração nova.
O sistema léxico de uma língua traduz assim a experiência cultural acumulada por um grupo através do tempo. O léxico pode ser considerado como o património vocabular de uma comunidade através da sua história, sendo um acervo que é transmitido, de uma forma instintiva, de uma geração para a geração seguinte. Os léxicos de cada língua tendem a partilhar certas palavras, nomeadamente provenientes de línguas antigas, como o grego ou o latim, embora palavras referentes a tecnologias modernas sejam cada vez mais comuns em grande parte dos léxicos.
O usuário da língua utiliza o léxico, esse inventário aberto de palavras disponíveis no seu idioma, para a formação do seu vocabulário, para sua própria expressão no momento da fala e para a efetivação do processo comunicativo. Assim, o vocabulário de um indivíduo caracteriza-se pela seleção e pelos empregos pessoais que ele faz do léxico. Quanto maior for o vocabulário do usuário, maior a possibilidade de escolha da palavra mais adequada ao seu intento expressivo. Alguns especialistas alegam, no entanto, que o número de palavras conhecidas pelo cidadão comum, é hoje muito inferior ao que seria no passado.
A fotografia é um léxico visual, cujas imagens são palavras que remetem para um menor ou maior entendimento, consoante o grau de reconhecimento desta simbologia complexa.
Não basta ler a palavra, há que a pensar, não basta ver a imagem, há que a olhar e a descodificar.
A pequena casa em Vila Franca de Xira, onde a exposição se encontra, foi deixada por mim no seu estado decadente atual e serve também de símbolo para uma apatia generalizada em relação à arquitetura das nossas cidades. As fotografias espalham-se pelas paredes degradadas, como que abandonadas pelos últimos moradores da casa, como se tivessem tentado deixar as memórias para trás. No entanto, elas compõem um léxico de imagens já muito vistas, já muito cliché, que era como se chamava a fotografia antigamente. As imagens repetem-se, como os arquétipos em Warburg, porque aparentemente nos asseguram de que vivemos uma vida que vale a pena ser vivida. Ou, pelo menos, fotografada.”
A Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira (BF16) iniciada em 1989, tem este ano a 13.ª edição. O curador-geral, David Santos, escolheu o tema “Arquivo e Observação” e espalhou a Bienal por toda a cidade.
Esta exposição pode ser visitada de 15 de outubro de 2016 a 22 de janeiro de 2017.
O Prémio Artes Plásticas 2016 da AICA 2015+2016 foi atribuído a Daniel Blaufuks por esta exposição, Léxico, realizada na Bienal de Vila Franca de Xira, e pela exposição Tentativa de Esgotamento, realizada na Galeria Vera Cortês, em Lisboa (aqui).
2017.06.12
Entrada actualizada el el 03 jul de 2017
¿Te gustaría añadir o modificar algo de este perfil?
