UM ENCONTRO por Maria Clara Paulino
“Ver o que salta aos olhos” é, acima de tudo, um encontro. Vários encontros, afinal: um, entre o visitante e cada peça (e é Barnett Newman que defende, em The Sublime is Now, que esse é um encontro em tudo semelhante ao de duas pessoas que assim estabelecem uma relação profunda); outro, entre as peças de Júlio e as de Vítor; e um outro, ainda, entre o visitante e a conversa que este vier a tecer entre elas. É o olhar de cada um, mais do que a intenção de autores ou curadores, que irá desenhar convergências e divergências, paralelismos, oposições e complementaridades entre Pomar & Pomar. Parafraseando John Berger, o ato de ver envolve uma decisão que determina um relacionamento e o visitante tomá-la-á antes mesmo de a saber articular, porque ver precede a fala e a natureza recíproca da visão é anterior ao...diálogo.
"[Porque] uma forma de registar e apreciar plenamente o significado estético, e o impacto de uma pintura é fixar os olhos num ponto central, ou num outro ponto qualquer (dependendo da composição), abrangendo simultaneamente, num só ato global de atenção, a totalidade da tela que o rodeia. O observador regista assim, simultaneamente, o impacto do campo visual no seu todo em torno do ponto de fixação e, de uma só vez, a totalidade de formas e cores interrelacionadas. Na medida em que o conseguir fazer, e se a pintura tiver qualidade, a sua atenção incidirá no que a pintura "diz" através das suas características visíveis e não, certamente, nessas características em si mesmas."
THE PHENOMENOLOGY OF SOCIAL ENCOUNTER: THE GAZE John Heron tradução M. C. Paulino
http://www.human-inquiry.com/posetg.htm
Júlio Pomar (Lisboa 1926)
Vive e trabalha em Paris e Lisboa.
Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e as Escolas de Belas-Artes de Lisboa e Porto. Participou em 1942 numa primeira mostra de grupo, em Lisboa, e realizou a primeira exposição individual em 1947, no Porto. Nos anos da sua oposição ao regime de Salazar foi preso quatro meses e foi-lhe apreendido um dos seus quadros pela polícia política e foi ocultado os frescos com mais de 100 m2, realizados para o Cinema Batalha no Porto. Em 1963, instala-se em Paris. O Ministério da Cultura francês convidou Júlio Pomar a realizar um retrato de Claude Lévi- Strauss, que precedeu o do presidente Mário Soares para a galeria oficial do Palácio de Belém, em 1991.
Exposições individuais (seleção)
2012-13 Atirar a albarda ao ar na Cooperativa Árvore, Porto e Galeria 111, Lisboa.
2009 Nouvelles aventures de Don Quixote et Trois (4) Tristes Tigres, Galerie Patrice Trigano, Paris, França.
2008 Cadeia da Relação, mostra comissariada por João Fernandes, Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto. 2004 Autobiografia, mostra comissariada por Marcelin Pleynet Museu de Arte Moderna – Coleção Berardo, Sintra.
2002 Os Três Efes – Fábulas, Farsas e Fintas, Galeria 111, Lisboa Além da obra de pintura, desenho, escultura, cerâmica e gravura, Júlio Pomar escreveu Catch: thèmes et variations, Discours sur la cécité du peintre, ... Et la peinture?, Éditions de la Différence, Paris, 1984, 1985 e 2000, os dois últimos traduzidos por Pedro Tamen com os títulos Da Cegueira dos Pintores, Imprensa Nacional, 1986 e Então e a Pintura?, Dom Quixote, 2003 e duas coletâneas de poesias Alguns Eventos e TRATAdoDITOeFEITO, Dom Quixote, 1992 e 2003.
Júlio Pomar criou em 2004 uma Fundação com o seu nome. Em Abril de 2013 a inaugurou o Atelier-Museu Júlio Pomar, criado pela Câmara Municipal de Lisboa, em edifício que adquiriu na Rua do Vale n.º 7, Mercês, Lisboa, o qual contou com um projeto arquitetónico de reabilitação da autoria de Álvaro Siza.
Vítor Pomar
Nasceu em 1949, em Lisboa. Vive e trabalha em Assentiz, Rio Maior, Portugal.
Exposições individuais (seleção)
2014 Inexistente Embora Aparente, Galeria Pedro Cera, Lisboa
2013 Uma Pátria Assim... Pintura, EDP, Museu da Eletricidade, Lisboa
2011 Nada para fazer nem sítio aonde ir, CAM – Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
2008 Só́Acredito em Milagres, Centro Cultural de Cascais
2007 Ilha do Tesouro 1977-2007
2005 Micropráticas, LISBOAPHOTO, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
2003 O Meu Campo de Batalha, Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto.
Foi Prémio EDP pintura, 2002
As exposições incluem frequentemente, pintura, trabalhos em fotografia e vídeo.
Entrada actualizada el el 08 jul de 2016
¿Te gustaría añadir o modificar algo de este perfil?