No livro Danúbio de Claudio Magris, o rio homónimo começa algures na Floresta Negra, na Alemanha, precisamente numa torneira que pinga, um pouco acima da sua tida fonte. Da mesma forma, A gruta já aqui estava, oculta e em potência, atrás das paredes da galeria. Por afiliação, poderia ter sido construída por refugiados alemães que aqui chegaram durante a primeira guerra mundial. A construção tem qualidades que a aproximam do expressionismo alemão no cinema, com eco na Merzbau (1937) de Kurt Schwitters. As suas protuberâncias pontiagudas e diagonais esticadas estão directamente relacionadas com uma agonia do momento vivido.
A gruta foi construída com materiais rejeitados pela sociedade que formam um misto de natural e artificial, evidenciando a crosta tóxica que a Natureza não consegue renovar por completo.
Sob a nuvem negra do capitaloceno, a intensidade e heterogeneidade das forças produtivas de Hugo Canoilas, Vasco Costa e Filipe Feijão convergem num todo...que é o princípio de uma obra colectiva, que será desenvolvida com um conjunto de artistas de diferentes gerações, geografias e afiliações artísticas sociais e políticas.
A gruta pretende propor formas alternativas ao auto-centrismo humano e pensar em novos modos de empatia entre os humanos e os restantes animais, plantas e elementos no mundo.
A primeira intervenção n’A gruta é da autoria de Ana Vaz, que dialogou com Hugo Canoilas, Vasco Costa e Filipe Feijão na construção d'A Gruta, de modo a transformá-la num espaço para receber cinema. Numa espécie de exercício tautológico, e convocando o carácter ritualista das primeiras imagens projectadas, através do fogo, no interior das cavernas, A Gruta apresenta o filme A Idade da Pedra (2013).
Em A Idade da Pedra, uma viagem ao extremo oeste do Brasil leva-nos a uma estrutura monumental - petrificada no centro da savana. Inspirado na construção épica da cidade de Brasília, este filme utiliza a História para a imaginar de um modo diferente. "Olho Brasília como olho Roma: Brasília começou com uma simplificação final de ruínas." Através dos traços geológicos que nos conduziram a este monumento fictício, o filme desenterra uma história de exploração, profecia e mito.
Entrada actualizada el el 14 ene de 2019
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