Nesta sua exposição na galeria Pedro Oliveira Adelina Lopes apresenta obras de forte presença minimalista. Obras essas que se por um lado se posicionam no seu sóbrio processo evolutivo, por outro e como sempre, não deixam de nos surpreender.
A geografia da exposição explana-se por três tipos de suportes.
Os desenhos:
Tratam-se de dois desenhos a jacto de tinta (150 x 110 cm, cada ), em que a artista se debruça e reinterpreta uma obra de Samuel Beckett, “Act Sans Paroles I”, 1956. Adelina serve-se desta obra de Beckett recriando um “acto sem palavras” retirando tanto as palavras e deixando as pontuações num, como em outro deixando-as ocultas a negro resultando apenas a mancha do texto. Trata-se portanto na sua essência de um trabalho sobre o título do livro de Beckett de uma forma directa, fornecendo-nos novas percepções.
As fotografias:
Série: “Copo com água / Água com copo” (120 x 88 cm, cada) e...série: “Portrait / Landscape” (110 x 110 cm, cada). Quatro fotografias a impressão jacto de tinta. As correspondentes ao primeiro título são duas em que Adelina apresentando recipientes (garrafas) limita-se à descrição literal do título (recipiente + conteúdo, conteúdo + recipiente).
Nas duas correspondentes ao segundo título Adelina interessa-se por um processo de levantamento analítico sobre o método anglo-saxónico de posicionamento de leitura de uma normal folha de suporte de escrita ou inscrição de imagem. Orientação vertical normalmente usada para “Portrait”, ou horizontal para “Landscape”. Nestas últimas fotos, a artista seguindo esse princípio de apresentação serve-se igualmente de dois recipientes / conteúdos (garrafas), sendo um na vertical (qual portrait) e outro na horizontal (landscape).
Esculturas:
Esculturas em bronze (27,5 x 21 x 9 cm e 5 x 21 x 27,5 cm).
Adelina serve-se de um livro icónico da Taschen intitulado “Sculpture”, transformando-o em escultura.
Em todo o seu trabalho em que mais uma etapa se dá agora a ver, Adelina Lopes debruça-se sobre questões relacionadas com reflexões acerca do objecto e forma, sua desconstrução como método de pesquisa, questões que por sua vez são postas perante o observador como desafios à sua atenção, como um jogo perceptivo. Jogo esse visual e verbal, remetente para processos dicotómicos entre o ver e o ler e a relatividade dos conceitos.
Também importantes são os meios e os materiais de eleição. A economia de meios e depuração ensina-nos muito sobre as melhores práticas minimalistas do fazer e por alguma razão os seus materiais de eleição são de grande pureza e sobriedade, como o vidro e a água.
Entrada actualizada el el 13 nov de 2016
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