Exposición en Rio de Janeiro, Brasil

Ana Calzavara | Quiçaça

Dónde:
Mul.ti.plo Espaço Arte / Rua Dias Ferreira 417/206, Leblon / Rio de Janeiro, Brasil
Cuándo:
28 sep de 2023 - 14 dic de 2023
Inauguración:
28 sep de 2023 / 18h00
Horario:
De segunda a sexta, das 10h às 18h30 (sábados, sob agendamento)
Organizada por:
Artistas participantes:
Teléfonos:
+55 21 2042 0523|+ 55 21 2294 8284
Descripción de la Exposición
No vocabulário popular, quiçaça significa mato baixo e espinhento, capoeira de paus tortuosos e ásperos. Esse é o nome da exposição que a Mul.ti.plo abre no dia 28 de setembro, às 18h, da artista Ana Calzavara. Em obras inéditas, a pintora paulista traz à luz essas pequenas plantas rebeldes e obstinadas, que rebentam de um muro descascado, das gretas de uma calçada, do asfalto esburacado. Quem assina o texto crítico é o curador e pesquisador Victor Gorgulho. Todos os trabalhos são recentes e foram produzidos especialmente para a exposição, que será a primeira individual da artista na galeria e no Rio de Janeiro. A mostra fica em cartaz até 1º de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h30, no Leblon, com entrada franca. “Quiçaça” reúne cerca de 25 pinturas em óleo sobre tela, cinco sobre cerâmica e um tríptico de xilogravuras. Há também nove frottages, feitas em papel japonês ... com carvão, bastão a óleo, guache e pastel. “Captei a rugosidade, a matéria bruta da rua esburacada, a selva de pedra e as plantas que vão nascendo nessas gretas”, diz a pintora natural de Campinas, que vive em São Paulo. Nas obras dela, a arte insiste em brotar nos locais mais inóspitos. “Nessa exposição eu queria trazer essa graça da planta nascendo apesar das adversidades. Essa vivacidade do broto fala de insubordinação, resiliência, mas igualmente de alegria e esperança. Isso me interessa”, resume a pintora. As obras possuem formatos diversos, que vão de 22 x 35 cm, a um díptico de 90 x 220 cm, e um tríptico de 100 x 250 cm, aproximadamente. Em suas pinturas, Ana Calzavara tem a capacidade de lidar com elementos aparentemente banais e corriqueiros, que, envoltos por uma complexidade em termos pictóricos, desperta a partir da linguagem da arte, novas percepções de mundo. Segundo Maneco Müller, sócio da Mul.ti.plo, para falar da poética da artista vale lembrar uma afirmação de Ferreira Gullar (1930-2016) sobre a escrita de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): “O que me marcou mais foi a exploração de certos aspectos muito banais da realidade que eram transformados em poesia”. E explica: “Calzavara tem essa rara faculdade de encontrar no ordinário, aos olhos comuns, matéria para falar de seu tempo. Essa insurgência, que se dá pelas beiras, pelos entres, é absolutamente surpreendente e contemporânea, por trazer em si uma radicalidade monumental de quem enfrenta todas essas dificuldades e obstáculos”, diz o galerista, que comanda a casa ao lado de Stella Ramos. A pintura de Calzavara nos convida também à fruição em um outro tempo. Em suas obras, a mesma cena pode estar repetida. “Alguns trabalhos têm uma espécie de cacofonia, uma repetição de um pedaço da pintura, um zoom de uma das partes... É um interesse meu que vem se intensificando, um convite ao observador a desacelerar o tempo de leitura da imagem, a olhar novamente, por diferentes ângulos”, conclui a artista. ---------------------------------------- Texto por Victor Gorgulho Névoa, nevoeiro, horizontes turvos, brechas, frestas, dobras, desaceleração, cognição, regime de visão e por aí vai. Todas essas palavras ou expressões vêm se tornando, sabemos, cada vez mais comuns em nosso vocabulário cotidiano, penetrando o discurso de um certo imaginário coletivo que busca – com mais ou menos sucesso – interpretar e digerir a complexidade da experiência humana atualmente. Ao passo que uma versão hiper da contemporaneidade por nós compartilhada enquanto experiência comum de tempo e espaço se intensifica, a arte contemporânea, frequentemente, lança-se ao desafio de ir na contramão dessa avalanche de informações, estímulos e demais acúmulos de “data” a pairarem feito sólidas nuvens de conteúdos obscenamente distintos e já indiscerníveis por nossos aparatos cognitivos. Intitulada Quiçaça, a presente série de pinturas aqui reunida (junto de uma xilogravura realizada em tríptico, e uma série de desenhos e frottages) foi concebida pela artista no ano passado, quando se encontrava resguardada em um ambiente doméstico, por conta do período de quarentena e isolamento necessários diante da contaminação pelo vírus SARS-CoV-2, o Coronavírus. Não que tal isolamento e certa solidão fossem estranhos ao processo artístico de Calzavara, artista que, através de meios distintos como a fotografia, o vídeo e a pintura, está sempre a investigar e perscrutar os meandros de um mundo possivelmente mais silencioso, menos histriônico, diante deste em que nos encontramos sufocados, desorientados em busca de chão firme e respostas concretas sobre o porvir. A "quiçaça" do título da mostra designa justamente a maior parte das paisagens-vegetações que vemos em trechos, excertos e zooms involuntários, através das pinceladas de Ana. Uma quiçaça é justamente o tipo de planta que cresce em terrenos baldios, nas frestas de paredes de tijolo e de cimento, em improváveis brechas de uma estrutura arquitetônica qualquer, apontando para sua resistência e desejo incorruptíveis de virem ao mundo, de crescerem em direção à luz do sol e aqui permanecerem. Se o mundo de hoje nos conduz a uma experiência em que nossos aparatos cognitivos encontram-se em plena disfunção ou derradeiramente caminhando para uma espécie de colapso total – somos bombardeados a todo momento por diferentes direções através de imagens impressas, digitais, pixeladas, em uma irrefreável avalanche das próprias –, não é raro que nossos olhos deixem escapar um tanto daquilo que, dentro dessa desequilibrada e esquizofrênica equação, é capaz de fisgar nossas atenções e sensibilidades. Dito, quem sabe, de outra forma, pelas palavras do filósofo coreano Byung-Chul Han, em seu texto "Não coisas": Informações falseiam eventos. Elas vivem do estímulo da surpresa. Mas o estímulo não dura muito tempo. Surge rapidamente uma necessidade de novos estímulos. Acostumamo-nos a perceber a realidade em termos de estímulos, em termos de surpresas. Como caçadores de informações, nos tornamos cegos a coisas silenciosas, discretas, até mesmo coisas ordinárias, trivialidades ou convencionalidades que carecem de estímulo, mas que percebemos em nossa vida diária. Elas carecem de estímulo, mas nos ancoram no ser. (Han, Byung-Chul; "Não coisas - Reviravoltas do mundo da vida; 2023; Editora Vozes). Ora, não é preciso ir muito longe para articularmos, teórica e afetivamente, as vegetações pintadas por Calzavara como exemplos precisos daquilo que o filósofo coreano chama de "coisas silenciosas, discretas, até mesmo coisas ordinárias". Tal exercício do olhar, em busca de sua desaceleração e da instauração de um outro regime de atenção e disponibilidade para o mundo que enxergarmos a nosso redor, não é novidade na produção da artista. Aqui, no entanto, esse desejo ganha novos contornos ao passo que Ana opta por exibir apenas pinturas, as quais suas concepções muitas vezes são originadas da própria fotografia, meio que vem explorando, amplamente, há cerca de 25 anos. "Como fazer uma imagem que persiste?", se perguntou a artista, durante o processo de realização das telas aqui reunidas. Concebidas em diferentes escalas e sobre distintos suportes (telas, juta e utensílios de barro), as pinturas de Calzavara nos convocam, clara e indubitavelmente, para sermos – nós também! – experimentos e experienciadores desse possível outro mundo, onde uma caminhada qualquer pode nos levar a verdadeiros e profícuos momentos de contemplação, de reflexão e de assimilação de nossas ideias, anseios, angústias e afins. Ora nos revelando paisagens próprias da sua infância (nas pinturas em que o típico azulejo vermelho de casas simples, espalhado por toda a cidade e perpetuado em sua irretocável composição estética-formal); ora através de plantas que nos são apresentadas já com o furor do movimento (vá saber... de um carro? uma bicicleta? velozmente pilotada por nós), ainda que sem nos privar de contemplar tudo aquilo que um passeio banal pode nos presentear. Beleza ótica, interna, sentimento de nostalgia e até mesmo de certa melancolia. Tudo é capaz de nos atravessar. E assim deixemos. Uma vez de volta ao mundo da experiência, talvez sejamos capazes de lançar olhares fundamentais e um tanto urgentes para a natureza que nos cerca, por exemplo. Seja da ordem das quiçaças, que resistentemente florescem nas mais adversas condições, seja ao refletirmos acerca do futuro da Floresta Amazônica, pauta sabidamente global, reincidentemente a nos cruzar, em todo canto pelo qual circulemos. Talvez pensar em mudar o mundo – seja através de um sonho-delírio como salvar por completo o bioma amazônico, seja pelo desejo vão de extinguir todas as formas corruptíveis capazes de genuinamente derreter nossos cérebros e além – seja um pensamento deveras assustador, digno de paralisar qualquer ser que se lance a tal empreitada impossível, pesada e necessariamente coletiva. Quiçá, devemos começar pelo diminuto, por tudo aquilo que Ana Calzavara nos convida, aqui a direcionar nossos olhos de retinas cansadas e embaçadas que (oxalá!) se renovarão após uma boa (e estendida) mirada pinturas adentro, por parte dos visitantes. "A força dos fracos é o seu tempo lento", já nos dizia, em 1993, o escritor e geógrafo baiano Milton Santos, no subtítulo de seu livro "Metrópole". Utilizemos essa força insuspeitada e estranha, com decididos afinco e furor, um latente desejo de encontrar nunca o mesmo mundo ao fitá-lo, mas, sim, um outro novo mundo velho, em constante mutação para todos os lados e direções infindas, muitas das quais somos capazes de reter dentro de nós e, junto delas, seguir em uma caminhada mais harmônica, poética e possível rumo ao desconhecido porvir. Com menos névoa, neblina, tempestades ou ondas de calor insuportáveis a nos assolar. Caminhar, apenas, como sempre fizemos e assim seguiremos a fazer.

 

 

Entrada actualizada el el 29 nov de 2023

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