A Galeria Leme apresenta Avesso Espiralado, quarta individual de Jessica em seu espaço. A mostra reúne a produção mais recente da artista, que consiste em três séries de trabalhos e uma vídeo-animação, todas inéditas. Com abertura dia 23 de setembro, às 14h, a mostra segue aberta para visitação até 21 de outubro de 2023.
Mein desenvolve uma pesquisa sobre a fisicalidade das imagens, dos suportes e os limites da linguagem ao longo dos últimos 20 anos. Em seu trabalho, a linha é um elemento primordial com o qual a artista trabalha em suas mais diversas formas e matérias. Primeiro como traço, contorno e hachuras em seus desenhos e vídeo-animações, e depois como materialidade no desfiar das tramas da tela de algodão, sacos de cânhamo, teares e rendas. Através da linha, a artista explora as contradições e porosidades entre suporte e obra, trabalho intelectual e manual, acabado e inacabado, artista e artesã.
As...obras expostas carregam vestígios de seu processo de confecção, que tradicionalmente seriam dissociados e descartados do objeto final. Em Aparecida (2023), Mein incorpora o papel manteiga e o plástico de ração de animal - suportes provisórios usados na confecção das rendas - como um recurso para refletir sobre a passagem do tempo e as marcas do trabalho manual. Fruto do diálogo entre a artista e os mestres artesãos e operários, as obras apresentam pontos de renda inventados e novas maneiras de tecer, extrapolando a tradição e provocando o esgarçamento dos limites dos materiais, criando assim linguagens híbridas. O trânsito que Mein faz pelas distintas técnicas de tecelagem expressa os deslocamentos geográficos que a artista realizou entre a Argentina, o Brasil e a Guatemala nos últimos anos.
O procedimento de produção da animação Entre-linhas (2023) envolve o desenho, recortes, colagens sobre as imagens de vídeo capturado pela própria artista durante uma viagem ao noroeste argentino. Nele, as mãos de uma artesã entrelaçam fios e tramas no tear. Fragmentados em mais de 700 imagens, os frames do vídeo são impressos e um a um sofrem intervenções manuais da artista. Uma vez finalizadas, as imagens são escaneadas em camadas e reanimadas. O vídeo final apresenta interrupções, ruídos e colagens com reproduções e elementos de outras obras presentes nesta exposição, estabelecendo uma relação análoga ao próprio processo criativo de Mein, que recombina, esgarça tramas e técnicas e vira do avesso a própria linguagem.
Sobre a artista
São Paulo, Brasil, 1975.
Vive e trabalha em Buenos Aires, Argentina.
Jessica Mein investiga a materialidade da imagem e a relação desta com o seu suporte. A artista se interessa pelos materiais visuais cada vez mais obsoletos que estão sendo substituídos por alternativas de alta tecnologia. Elementos quase extintos, tais como as estruturas e papéis de outdoors de São Paulo e os sacos de cânhamo impressos manualmente, dos mercados nos arredores de Dubai. Jessica Mein usa técnicas como a colagem, a frottagem, o desenho e o vídeo (stop-motion) para discutir o embate entre o uso de tecnologias digitais, meios mecânicos de reprodução e o trabalho manual, que está fatalmente sujeito ao erro humano. Contrastando com a facilidade e rapidez como as imagens são produzidas e difundidas hoje em dia, os trabalhos produzidos por Mein são altamente trabalhosos, lentos e complexos. Numa oscilação constante entre construção e a posterior sabotagem de suas próprias obras, a exploração de Jessica Mein se estende desde a micro escala dos materiais que usa (desfiando, rasgando e cortando esses mesmos materiais) até à macro escala das estruturas espaciais que constrói. Em seus trabalhos os elementos de apoio tornam-se tão importante quanto as imagens desconstruídas. Ao alterar e experimentar os seus trabalhos até às suas arquiteturas mais básicas, a artista questiona a autoridade e mecanização da imagem e seus entornos.
Exposições individuais: Jessica Mein, Galeria Leme, São Paulo, Brasil (2018); Desvios, Simon Preston, Nova Iorque (2016); Topologies, trabalho comissionado pelo Alserkal Avenue, Warehouse 51, Dubai, Emirados Árabes Unidos (2016); Tramas, Galeria Leme, São Paulo, Brasil (2015); Obras, Simon Preston, Nova Iorque, EUA (2013); The Pavilion Downtown, Dubai, Emirados Árabes Unidos (2012); entre outras.
Exposições coletivas: Andar pelas bordas: sobre práticas de bordado e cuidado (curadoria de Lilia Moritz Schwarcz), Galeria Arte 132, São Paulo, Brasil (2023); Lugar Comum, Museu de Arte Contemporânea - USP, São Paulo, Brasil (2022); When We First Arrived, Whitman-Walker, Washington, EUA (2020); Ten Years After, Simon Preston Gallery, EUA (2018); Hudinilson Jr., Jessica Mein, Vivian Suter, Simon Preston Gallery, Nova Iorque, EUA (2017); Duas décadas do Museu Universitário de Arte em Uberlândia: MUnA - de 2 UM, Uberlândia, Brasil (2016); Becoming the Image, Jessica Mein, Joseph Montgomery & Patricia Treib, projects | at fifteen, Tel Aviv, Israel (2015); On the Blue Shore of Silence, Tracy Williams Gallery, Nova Iorque, EUA (2014); A Sense of Place, The Ruth and Elmer Wellin Museum of Art at Hamilton College, Clinton, EUA (2013), entre outras.
O seu trabalho faz parte de coleções como: Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil; Julia Stoschek Collection, Dusseldorf, Alemanha; MoMA, Nova Iorque, EUA; Cleveland Clinic Collection, EUA, The Bronx Museum of the Arts, Nova Iorque, EUA, entre outras.
Entrada actualizada el el 20 sep de 2023
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