BOANDA (Boa-Anda) reúne as últimas sílabas das cidades capitais Lisboa e Luanda, que se unem pela mesma língua, criando este jogo de palavras emocional entre os dois territórios.
Neste projeto, a preocupação principal foi conseguir concretizar os cruzamentos entre artistas que representassem os dois países e as suas cidades de vivência e trabalho.
Era necessário que no processo criativo de cada artista viessem à superfície traços próprios, interrupções de ordem estética e técnica, influências locais e internacionais, cruzamentos temáticos, diálogos frutuosos e marcas da sua própria identidade.
BOANDA junta, no seu nascimento, 4 artistas portugueses e angolanos, para construir um corpo de trabalho que refletisse, de forma orgânica, pontos de encontro, confluências de ideias e “debates” visuais, imbuídos de narrativas que ultrapassassem a esfera do privado, dando lugar a uma observação mais atenta ao que encontravam fora do seu espaço social, familiar e profissional.
Na busca das possíveis interpretações da identidade e da memória...do artista enquanto indivíduo coletivo, esta criação artística teve como base as várias camadas, sobreposições e diálogos que a energia de cada um trouxe para o processo criativo.
Sara Maia, Tim Madeira, Hamilton Francisco (Babu), Rita GT desenvolveram conversas, discussões de ideias e trocas de temas de trabalho, formando uma espessura plástica verdadeiramente simbiótica dos valores essenciais que este projeto pretende assimilar: a inclusão identitária, o poder da imaginação e a aprendizagem local - com o uso de matérias primas autóctones e aspetos da geografia do lugar – e demonstrar que a Arte catalisa energias, ideias, e ações realmente fundamentais para o crescimento das sociedades; para um entendimento comum dos homens.
Cada artista iniciou uma obra, que na sua casa/ateliê passou a outro artista para a completar. Um trabalho que a pandemia, bem ou mal proporcionou, dando lugar a métodos de trabalho coletivo menos convencionais. Algumas das obras foram sendo construídas passo a passo, como se de uma correspondência se tratasse entre os vários intervenientes. Tim Madeira em Cascais, Hamilton Francisco em Coimbra, Sara Maia em Santa Cruz das Flores e Rita GT, em Viana do Castelo. A este projeto um último elemento foi adicionado para enriquecer a visão cultural de Portugal e Angola. O artista António Gonçalves viaja até Luanda para realizar, juntamente com o artista Tim Madeira, uma residência no Instituto Camões/Embaixada de Portugal.
Este projeto está, assim, dividido em 2 momentos geográficos distintos, precisamente para que a criação artística pense os “temperamentos” dos lugares onde é realizada.
O primeiro momento será em Luanda, em que o projeto está organizado por uma residência artística, ateliês em escolas e uma mostra dos trabalhos produzidos localmente. Um segundo momento, em Lisboa, no espaço UCCLA, com os trabalhos que mais percorreram as mãos destes criativos, num itinerário de acumulação de corpo de trabalho que seguiu os trajetos espácio-temporais a que se propôs.
Em conclusão, este projeto não só permite a realização e o desenvolvimento artísticos e estéticos contemporâneos sobre as realidades Angolana e Portuguesa, como também manifesta publicamente uma intenção identitária muito robusta. Ele abre o caminho à colaboração, à internacionalização, ao conhecimento de outras culturas, à aceitação de novos desafios e à ocupação da arte como epicentro das soluções de participação presente e futura; das questões problemáticas das sociedades de hoje, trazendo as suas valências para a vida do dia a dia.
BOANDA é uma iniciativa com potencial transformador e um exemplo a continuar por outras cidades e países do mundo, de língua portuguesa.
Curadoria de Elisa Ochoa
Entrada actualizada el el 25 nov de 2021
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