Exposición en Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Desenhos

Dónde:
Bolsa de Arte / Rua Visconde do Rio Branco, 365 - Bairro Floresta / Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Cuándo:
23 jul de 2013 - 17 ago de 2013
Inauguración:
23 jul de 2013
Organizada por:
Artistas participantes:
Descripción de la Exposición

No imaginário brasileiro e latino-americano, a força da paisagem se impõe como um elemento sempre presente e poderoso, porém silencioso. A visão desse mundo original e único nos é transmitida desde a infância, em histórias de homens que no passado palmilharam o desconhecido, o maravilhoso, um paraíso cuja presença era sentida e pressentida, mas que se mostrava esquivo, fugidio e implacável: selvagem. São panoramas secretos, de um mundo quase desconhecido, pouco ou nunca visitado, mas paradoxalmente visto como nosso.

 

Por outro lado, na tradição da pintura ocidental, a representação da paisagem atravessou séculos de desenvolvimento, e chegou em grande forma ao auge do modernismo. No entanto, nunca se indagou, do ponto de vista de um país não europeu como o Brasil, se essas linguagens da tradição eram ferramentas adequadas para a criação de representações da paisagem brasileira. De fato - ... e o observamos claramente na iconografia dos artistas-viajantes europeus que passaram pelo Brasil e pelas Américas no século XIX e nos anteriores -, a representação da paisagem americana, em seus melhores exemplos, sempre foi tributária de um certo racionalismo iluminista (um naturalismo esclarecido), ou de um arranjo pitoresco de características romântico-naturalistas.

 

Quando, no momento mais criativo do expressionismo abstrato norte-americano, os artistas conseguiram dar uma resposta original às tendências racionalistas, analíticas e conceituais do abstracionismo europeu, as diferenças foram imediatamente entendidas e valorizadas. A arte norte-americana se entrega à luz (Rothko), à intensidade (Arshile Gorky / de Kooning), à desmedida (Motherwell) e ao ímpeto e arrebatamento (Pollock) - valores não contemplados pelo abstracionismo do Velho Mundo. Nada semelhante foi tentado no âmbito da representação da paisagem das Américas, senão por outro motivo, porque as linguagens figurativas sofreram constante desgaste no decurso do século XX.

 

Não é preciso explicitar o quanto a representação da paisagem e da natureza significa para uma visão das Américas, particularmente do Brasil. A representação da paisagem é uma ferramenta de interpretação da natureza pela cultura. Foi com esse propósito que Francisco Faria começou a se dedicar ao estudo da paisagem do Brasil e das Américas. O artista faz, porém, o percurso inverso: vai à natureza para nela descobrir elementos para a interpretação de uma cultura. Este é um giro radical na construção da representação da paisagem, contemplando alguns aspectos programáticos do modernismo brasileiro e latino-americano. Entre eles está, certamente, o conceito de 'contraconquista' do escritor cubano Lezama Lima, alicerçado na ideia de 'eras imaginárias', que é o percurso na história cultural das Américas por meio de uma releitura e de uma reconstrução imaginárias do passado cultural.

 

Para isso, Francisco Faria teve de sair do ateliê, ir ao encontro dessa natureza - tão falada mas muito pouco 'vista' - e nela descobrir um manancial de fontes primárias para reconstrução cultural. É a natureza, e não a cultura, que guia o olhar desse artista, e é ela que informa o olhar e permite amalgamar grandes conjuntos de referências culturais já acumuladas em séculos de desenvolvimento da linguagem do gênero da paisagem na história da arte. Nesse giro construtivo, o artista subverte o olhar romântico ou racionalista, indica outras possibilidades de apreensão da imagem, com novas composições e variações da representação.

 

É a própria natureza que vai indicar ao artista o ponto central da articulação do olhar, na 'construção' dessa paisagem: sua dinâmica, a necessidade de entendê-la em percurso. Necessidade derivada da grande dimensão dos espaços, de sua aparente indiferenciação, da falta de fronteiras (características de ancestrais culturas ameríndias que relacionam seu estar no mundo a um percurso, a uma procura). Nos desenhos, detalhes derivam de uma série de rabiscos; o artista não tem a intenção de isolar elementos da flora, como se houvesse ali um interesse botânico. É a necessidade da expressão que se impõe e (re)constrói a estranha e peculiar intensidade das paisagens das Américas, notadamente as brasileiras.

 

Na obra de Francisco Faria o espaço, que já se vinha fraturando, cede progressivamente seu caminho a uma representação do tempo, e, com isso, revaloriza aspectos simbólicos há muito marginalizados na representação (e entendimento) do espaço no ocidente, representação que evoluiu do perspectivalismo do alto-renascimento e do conjunto de ideias racionalistas presentes na vertente principal do pensamento ocidental. A representação do tempo, que, no contexto da figuração, pode ser em parte entendida como representação de uma 'narrativa', requer do artista uma expansão na construção do espaço figurado, de tal modo que comporte, nesse plano expandido, a representação do desenvolvimento de um acontecimento no tempo. Seu percurso. Aspecto facilmente observável na representação do espaço nas artes chinesa e japonesa, que estão, em grande parte, atentas à impermanência dos fenômenos. E, neste particular, observável também na linguagem da arte do alto gótico internacional, notadamente na Escola Sienesa, no ocidente.

 

No conjunto de trabalhos desta mostra, a representação da paisagem detém alguns aspectos simbólicos da representação do espaço quando nele se procura a representação do tempo (o que não é o mesmo que 'movimento'). E aqui, a série das 'Variações sienesas' aponta para o morfismo da representação do espaço, enquanto 'Grande paisagem quimérica' amalgama representação simbólica de espaço e cultura na construção de uma imagem híbrida. Os desenhos dos novos grotteschi ressaltam essa construção de referências simbólicas e quiméricas - numa reinterpretação dessa importante linguagem --, que também estão presentes nos grandes retratos.

 

Os desenhos de mares - que na obra do artista têm um papel de laboratório de linguagem, por meio da técnica exploratória, ágil e concisa do desenho - também ressaltam a expansão do espaço narrativo na série 'Mares do Levante'.

 

Ao longo de mais de 30 anos de carreira artística, Francisco Faria criou conjuntos paisagísticos em que vem adensando a luz, a dimensão desmedida (longas séries e grandes desenhos), a intensidade e o arrebatamento (técnica e execução profusas), para criar uma outra paisagem, um outro paraíso, algo que já perdeu sua luz e seu brilho arcádicos, mas mantém seu fascínio, sua presença, seu caráter sublime e, principalmente, sua dinâmica. Francisco Faria cria uma refiguração polissêmica da paisagem que podemos, finalmente, reconhecer como 'nossa'.

 

 

 
Imágenes de la Exposición
Francisco Faria

Entrada actualizada el el 26 may de 2016

¿Te gustaría añadir o modificar algo de este perfil?

Infórmanos si has visto algún error en este contenido o eres este artista y quieres actualizarla. O si lo prefieres, también puedes ponerte en contacto con su autor. ARTEINFORMADO te agradece tu aportación a la comunidad del arte.

¿Quieres estar a la última de todas las exposiciones que te interesan?

Suscríbete al canal y recibe todas las novedades.

Recibir alertas de exposiciones

Plan básico

Si eres artista o profesional… ¡Este plan te interesa! (y mucho)

  • Sube y promociona eventos y exposiciones que hayas creado o en los que participes ¡Multiplicarás su visibilidad!
  • Podrás publicar (y también promocionar) hasta 100 obras tuyas o de tus artistas. ¡Conecta con tus clientes desde cada una de ellas!
  • Disfruta de acceso a todo el contenido PREMIUM y al Algoritmo ARTEINFORMADO (Ecosistema AI e Indice AI de Notoriedad de artistas iberoamericanos).
  • Mantendremos actualizada tu perfil o la de tus artistas. Además, podrás contactar con los gestores de otras.
Premio
05 abr de 2024 - 05 may de 2024

Madrid, España

Exposición
26 abr de 2024 - 30 jun de 2024

Fundación Juan March / Madrid, España

Formación
21 sep de 2023 - 04 jul de 2024

Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España

Exposición Online
¿Quieres estar a la última de todas las exposiciones que te interesan?

Suscríbete al canal y recibe todas las novedades.

Recibir alertas de exposiciones