A Galeria sala117, no Porto, inaugura no próximo dia 25 de Janeiro, pelas 21h30, a exposição Eye-vo-re da artista plástica Mariana Barrote.
Eye-vo-re forma-se pela convivência de objetos que constroem entre si uma malha variegada de possibilidades para pensar o corpo como espaço primevo para a gestação do acto de provocar.
No entanto, o pensar o desenho como matriz leva à reunião de pinturas, de pequenos desenhos tridimensionais em linóleo, de objectos construídos para serem manipulados no vídeo, de desenhos.
Eye-vo-re
Mariana Barrote
Imagens interditas, impossíveis de olhar, sendo que à transgressão dessa interdição corresponde a metamorfose e/ou a morte. Mitos como Diana e Ácteon ou Perseu e Medusa (a que petrifica quem com ela cruzar o olhar) apontam para o perigo da alteridade e da imagem. Na fauna temos o louva-deus e o olhar frontal de cujo fascínio advém sempre a morte, quer para a presa quer para o amante, cuja cabeça é devorada...durante o coito. Das ocorrências biológicas, o mimetismo do olho torna-se íntimo do olho apotropaico presente em culturas humanas. Olho esse que devora.
Em Eye-vo-re surge primeiro a pintura, camuflando, iludindo e narrando o mundo como o vê J.M. Clezio, mundo esse onde “não há animais nem plantas, há apenas homens, mais ou menos mascarados.” A pintura surge como convite: com malhas multicoloridas de tinta, de natureza polypoika, dirigindo-nos ao espaço onde reina o desenho e o vídeo. Jogos miméticos incorporam gestos que se tornam ritualizados e desconstruídos, presentes na documentação do desenho. A exploração poderá acentuar o não revelado, pelo desvio da norma, por fascínios e pela hybris. O desenho formula metáforas visuais que refletem sobre o seu ato, partindo do enraizamento do gesto e do olhar. O vídeo, de forma lírica, descortina os processos inerentes à atividade de desenhar, sustentando-a como o jogo rítmico de tensões entre a sedução e a cegueira.
Propõe-se o alinhamento do energon (natureza intrínseca ao desenho segundo Roland Barthes) como um acto de entrega: capaz de seduzir o olhar até onde a transgressão ocorre. Negação da anatomia ao gesto de desenhar coincidindo movimentos corporais que provocam estranheza: propondo um corpo que incorpora não só a anatomia humana como o corpo excessivo, entre o humano e o seu devir. Esta sugestão desenvolve-se pela simbiose entre o desenho e o vídeo. Eye-vo-re fomenta rumores em torno do corpo manipulado em um rosto e no cancelamento da visão; todo ele movido na sedução, camuflagem e ocultação.
Biografia de Mariana Barrote
Mariana Barrote (Fão, 1986) vive em Viana do Castelo. É licenciada em artes-plásticas pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e atualmente frequenta o mestrado em artes-plásticas desenho pela mesma Faculdade.
Enceta uma pesquisa artística que se desenrola no agregar de imagens e representações capazes de reflectir sobre dinâmicas próprias do corpo: vitalidade; violência; presença; morte. Da potência do olhar e da leitura de mitos, constrói narrativas cujo decifrar pode ser múltiplo.
Na pintura, mas também no desenho e na recente experimentação com vídeo, a actividade do corpo como acção que contamina o espaço e o possui nos vestígios dos traços visíveis tem-se pronunciado.
Colaborações
2017 a 2019 participação em filme média-metragem de Mariana Caló e Francisco Queimadela
2019 - Cartaz para Opening Sounds, evento pela Parva Música e Ouro Bravo na galeria Nuno Centeno
2017 - Art3f Salon international d'art contemporaine, Paris
2011 - 1º prémio pintura Aveiro jovens artistas. Museu municipal de Aveiro.
Residências artísticas
2017 - Desencaminharte Festival de Arte-pública do Alto-Minho, instalação nos espigueiros do Lindoso
2016 - NGHE Mediathéque Brussels, com Bichel editions. Bruxelas
2015 - Carpe-Diem Artes e Pesquisa, com colectivo Chapa Azul. Lisboa
Encontrarte -Bienal de Amares, projecto Plein-Air na Casa do Tijolo, curadoria de Francisco Babo. Amares
Exposições individuais (individual exhibitions)
2019- Nordeste-Sudeste; Fundação Lugar do Desenho, Gondomar
Via Aberta - Sonho de uma noite de Verão, Mota Galiza, Porto
P de Pintura, Biblioteca Municipal da Póvoa-de-Varzim
Isis (vídeo), Poste, Galeria Extéril, Porto
Suspiros camuflados, Lote74, curadoria de Silveste Pestana e Celeste Cerqueira. Porto
2018- Bacia cantada, Silo, Matosinhos
2017- O Banho de Diana, Silo, Matosinhos
2016 - Aparta-os amado, que vou voando, mural e edição de livro pela Editions Bichel, NGHE Mediathéque, Bruxelas, Bélgica
2015 - Nuntios Nocturno, Modulo, Lisboa
A tristeza do Rei. Galerie Tres, Nantes, França
2014 - Curandeiro decantado - peripécias de coragem, Silo, Matosinhos
Exposições colectivas
2019 - Opacidade e transparência - desenho em contexto. Lugar do Desenho - Fundação Júlio Resende. Gondomar
Entre tanto. Cace Centro Cultural. Porto
No limite da cor – curadoria de Semíramis González – sala117. Porto
2016 - Desenho... Curadoria de Alexandre A. R. Costa, Jorge Santos e Francisco Trabulo. IPVC Viana do Castelo
2015 - Bienal da Maia. Performance - Decadente Auspicioso. Curadoria de José Maia. 15min de fama – 6ªedição (Galeria Extéril)
2013- Do Real e outras Verdades. Galeria Silo – Espaço Cultural. Matosinhos
2011- La Démesure. Colombes, França.
2010- We are ready for our close-up. Antiga Sede da RDP, curadoria de Ricardo Nicolau, Porto
Imágenes de la Exposición
Mariana Barrote. Eye-vo-re — Cortesía de Galeria sala117
Entrada actualizada el el 15 ene de 2020
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