Um dos temas mais atuais em arte é a relação homem-natureza. Muitos artistas e designers aceitaram o desafio de criar um convívio mais equilibrado. Poucos trabalham essa problemática com tanta vitalidade quanto Hugo França.

Sua poética é forte, dramática e sensual. Hugo França cria a partir de madeira extraída de árvores mortas*, retiradas diretamente da natureza pelo próprio artista. São troncos, raízes e galhos, escolhidos e secionados em função de um projeto.

A forma final mantém a expressividade original da madeira, que nos fala de uma memória construída no decorrer de séculos, pelo vento, pela chuva, pelo sol, numa escala de tempo que causa perplexidade. Hugo França imprime na forma algo de sensualidade, certas características de carne, de vida, no que antes era matéria morta, esqueleto vegetal.

... style='margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align: justify;text-indent:1.0cm;line-height:normal'>Diversos materiais, como corda, cipó, couro, vidro, convivem com a madeira ancestral, propondo novos significados. Exemplo disso é a mesa de tampo de vidro sobre dois arcos, secionados de uma canoa pataxó. O vidro atua como metáfora da água, onde a canoa se insere invertida, submersa.

Percebemos no design soluções ergonométricas e funcionais que seguem orientação de síntese formal, produto de intensa reflexão entre a matéria-prima e a vontade construtiva.

Os móveis de Hugo França são simples e expõem com clareza seus propósitos. É possível reconhecer imediatamente que uma raiz de grandes dimensões deu origem a uma chaise-longue. E é nessa verdade lapidada que está a força poética de sua obra.

Fabio Magalhães

* O pequi vinagreiro, natural da Mata Atlântica, atinge 40 metros de altura, e seu tronco, 2,5 metros de diâmetro. Pode viver 12 séculos. Possui uma resina impermeabilizante resistente ao tempo e à umidade. É utilizada, há séculos, pelos índios pataxó para fazer suas canoas.