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Ao pesquisar a arte boliviana, nos deparamos imediatamente com uma imagem muito marcada pelos temas das festas populares, das tradições e ancestralidades. Porém, cada imagem estereotipada que provém de uma nação, possui uma faceta real e outra carregada ... de superficialidades. Por suposto temos um país impregnado de uma forte tradição cultural, mas uma outra cara da sociedade boliviana se insere num contexto global, e nas recentes bienais e obras de artistas, existe uma assimilação contemporânea de elementos populares.

A origem das bienais bolivianas é ligada a um caráter local, funcionando num primeiro momento como salões de arte, mas gradativamente foram assumindo características internacionais e se consolidando no calendário artístico do país e mantendo regular periodicidade. As edições mais recentes refletem uma nova fase, onde cada vez mais um curador (ou um conjunto de curadores) vem atuando diretamente na seleção de artistas e, conceitualmente, em propostas mais ousadas. Na edição de 2011, sob o tema de 'Diálogos na Complexidade' e curadoria final de Justo Pastor Mellado (Chile), houve significativa redução quantitativa, mas uma expansão vertiginosa das atividades paralelas e de formação de público. Este ano, com o tema da 'Crueldade', a Bienal de Santa Cruz reformula o processo de seleção, indicando um cuidado mais íntimo com os conteúdos e obras a serem expostos.

NEW BRASIL - BOLIVIA NOW revisa e investiga cada uma das edições das bienais bolivianas, trazendo ao Brasil a maior mostra de arte contemporânea boliviana já realizada em território estrangeiro. Entretanto este não é o tema central do projeto, e apenas coletar obras premiadas de bienais de edições distintas nos levaria a mais uma mostra com tons de 'panorama'. A partir do momento que selecionamos obras de edições distintas, estamos justamente retirando-as dos contextos originais em que foram apresentadas e consequentemente gerando um novo discurso sobre elas. A partir desta análise toma forma o conceito da inocência perdida, que passa a fazer sentido com o diálogo com artistas brasileiros.

A cada experiência nova que vivemos perdemos e ganhamos algo, e neste processo da ingenuidade à maturidade, múltiplas «inocências» devem ser desveladas, rompidas e superadas numa dialética contínua, mas marcada -contraditoriamente- por momentos chave. Nesta paisagem se forma este novo discurso, e através de rupturas e descontinuidades, diversas inocências se sobrepõem.

De um lado a cena artística boliviana atinge uma maturidade irreversível, e de outro, se revela a nossa inocência brasileira frente à arte contemporânea praticada na América Latina. Além dos núcleos brasileiros e bolivianos, convidamos os «infiltrados», que são estrangeiros que, ou tiveram suas obras reconhecidas pelas bienais bolivianas ou atuam na integração cultural do continente.

Esta dupla inocência perdida nos conduz a uma exposição não apenas ilustrativa ou panorâmica, mas investigativa e crítica.