Exposición en Coimbra, Portugal

Passage

Dónde:
Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC) / Piso Térreo do Edíficio da Biblioteca Municipal - Parque de Santa Cruz / Coimbra, Portugal
Cuándo:
29 oct de 2016 - 17 dic de 2016
Inauguración:
29 oct de 2016
Precio:
Entrada gratuita
Artistas participantes:
Descripción de la Exposición
O trabalho de Pedro Pascoinho parece inspirar o nosso lado mais voyeurista, e é inevitável sentir como se nos encontrássemos a espiar as histórias de alguém. Conseguimos ver, talvez, o sonho de alguém, do artista?, de uma destas personagens, talvez aquela cuja cabeça repousa suavemente sobre um tampo de aspecto duro e desconfortável. Está morto e não se importará. Ou talvez durma sonhando um quotidiano de rostos e corpos, de movimentos por uma noite muito negra que parece fazer sobressair esses espaços, casas, ruínas unidas pela linha do tempo, uma linha que trespassa os quadros, mesmo que não seja sempre visível, uma linha que atravessa todo o trabalho de Pascoinho desde muito cedo. Mas é também como se o artista tivesse, de algum modo, encontrado uma forma de nos mostrar o processo da memória via imagem, matéria e som. Passage é o nome escolhido para esta exposição a inaugurar no espaço-sede ... do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra. Um nome que sugere, como o artista confirma, a passagem do tempo mostrada através dos rostos e corpos que inquietam o observador, desmanchando qualquer indício de repouso, de imobilidade, que um retrato poderia pressupor. Mesmo a figura mencionada anteriormente, que aparenta dormir (talvez para sempre), invoca eficazmente um corpo em levitação, produto, quiçá, de uma profunda meditação levada a cabo por Pascoinho, acerca da evolução do seu próprio trabalho que insiste na continuidade apurada das suas imagens. O tempo cronológico assinalado através dos vários motivos presentes neste trabalho – as árvores, as linhas, o velho, o novo – associa-se à ruína e ao abandono. Um fim e um começo, morte e regeneração. Passage é, de acordo com o artista, inspirado igualmente numa passagem ou num excerto de Hamlet, de William Shakespeare, que remete para as cinzas de César e para a forma como estas se materializam imortalizando-se. Se é verdade que o Imperador de Roma enquanto vivo fazia tremer o mundo, agora, morto, pode ajudar a sanar os hiatos e os buracos existentes, protegendo, por exemplo, uma habitação dos tremores do Inverno: “Morto, César imperial é só barro agora; Serve p’ra vedar o vento lá de fora. O que outrora foi do mundo pesadelo Calafeta muros, poupa-nos do gelo.”[1] É neste contexto que podemos entender a peça-instalação “Continuity”, na qual o barro e as cinzas dão lugar a partículas de cor negra prontas a cobrir o rasgão aberto na parede, uma cesura do tempo que a matéria imortal poderá coser e ajudar a sanar, ao mesmo tempo que, escorrendo quase líquida, se transforma ainda em outra coisa. Aqui, alarga-se numa mancha que prende o olhar ao chão, uma poça negra que apetece tocar, enfiar o braço ou a cabeça neste outro buraco produzido, talvez o buraco do coelho de Alice pelo qual podemos alcançar uma outra dimensão, um outro tempo. E de outro tempo falam-nos as personagens expostas no trabalho de Pascoinho, que toma como modelos figuras retiradas de revistas antigas, coleccionadas desde há muito, sublinhando o seu interesse pelo passado, por imagens de contornos clássicos que, inscritas no papel pintado e desenhado, perdem de imediato qualquer intenção mais nostálgica que poderiam sugerir. Isto porque estas são figuras intemporais, do antes e do agora, são figuras que nos são familiares porque unidas pela memória colectiva de quem observa. Uma memória colectiva que abarca eventos, imagens e figuras da nossa história como o painel ou o mural retirado do atelier do artista, parece demonstrar. Esta montagem de imagens, fotografias, desenhos, pedaços de pano escuro misturados com páginas de papel e notas escritas, é um apontamento visual revelador da história deste mundo, deste tempo e de outros que fazem parte do processo criativo de Pascoinho e que ajudaram a compor Passage. O título escolhido alude, pois, a múltiplos significados radicados numa mesma ideia de transição, de movimento, que pode ser temporal (da infância para a adultez, para a velhice), musical ou literária (um excerto de uma determinada obra), ou mesmo uma secção de uma pintura, por exemplo, como encontramos e reconhecemos nos apontamentos do artista e expostos no seu painel/mural. Desta forma, as personagens e os sítios do artista são matéria do escuro porque produto da sua e da nossa memória, que se nos oferece naturalmente fragmentada, escusa, fugidia, selectiva. Assim se compreendem as opções tomadas por Pascoinho, ao colocar estes corpos e rostos em acções e posições quase oníricas, dando-nos um vislumbre ou um fragmento de um rosto e de um corpo, acções que envolvem a meditação, a reflexão ou o adormecimento, figuras que espreitam e são espreitadas, aparentemente presas num ambiente carregado de segredos e sussurros que a peça sonora de 12 minutos composta pelo artista e inspirada em Olivier Messiaen, realça e vinca, apontando para um lugar sem fim de onde não é possível escapar, de onde talvez não se deseja escapar, apesar da luz eminente percebida através das frestas (“Fissure”) e das linhas que, claras e luminosas, contrastam com a soturnidade emitida pelas formas humanas. E porque há este apelo ao sonho e à memória, os edifícios e as paisagens presentes no trabalho expositivo de Pascoinho são objecto da mesma falha de clareza, um prenúncio da ruína e do fragmento, mas também da destruição. Passagem como um corredor através da violência da história do mundo patente nas imagens seleccionadas do painel/mural ou na cor intensa do telhado de “Extension” que ameaça transbordar os seus limites, um dos poucos contrapontos ao preto e branco da memória, e não isento da mesma carga tensa que trespassa Passage. Porque na memória há sempre algo que permanece escondido ou escuso, um algo que parece escapar da nossa mente e que pode surgir repentinamente, como por meio de um flash,[2] para desaparecer imediatamente a seguir, algo que parece próximo mas que não é alcançável – um algo que, porventura, estará fora da moldura. Ana Pires Quintais

 

 

Entrada actualizada el el 18 feb de 2020

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