Exposición en Curitiba, Parana, Brasil

Por Enquanto

Dónde:
Galeria Ybakatu - Espaço de Arte / Rua Francisco Rocha, 62, Lj 6 / Curitiba, Parana, Brasil
Cuándo:
11 jun de 2021 - 31 ago de 2021
Inauguración:
11 jun de 2021
Precio:
Entrada gratuita
Organizada por:
Artistas participantes:
Enlaces oficiales:
Web 
Descripción de la Exposición
Escolhi esse nome por conta deste tempo suspenso que nós estamos vivendo desde o início da pandemia. Essa exposição foi pensada nesse tempo, nesse tempo pandêmico, e também como uma pausa. Geralmente, quando eu fazia uma exposição, eu tinha cronogramas para seguir, prazos para trabalhar, e agora não, agora é por enquanto estou aqui, por enquanto ainda não tem uma data. Então essa expressão, “por enquanto”, acabou sendo usada muitas vezes e eu a escolhi como conceito da exposição. Vou apresentar dez trabalhos que são da minha produção pré-pandêmica. Tem muitos materiais com madeira, meu primeiro trabalho com bronze, um trabalho com fotografia e também uma instalação trabalhada com gesso e massa. Uma característica que veremos aqui é a alteração de escalas, e outra coisa interessante é o que eu chamo de troca de substâncias dos materiais; eu tenho um wafer feito de madeira, tenho a cabeça de um martelo também de ... madeira, tenho uma luva de boxe, que geralmente é leve, feita de bronze, tenho um violão expandido. No mezanino, eu tenho um tema com um mapa, tenho fotos que trabalham com o nível do mar, tenho um caracol de madeira, e uma instalação que eu fiz em 2009 chamada “Antimatéria”, em que um personagem entra dentro da parede. Convidei o professor e crítico literário Benedito Costa, também colecionador, para fazer uma seleção de frases de seu universo literário para dialogarem com minhas obras. Além da curadoria, ele fez algo como que uma tradução. O resultado foi um leque bem eclético, apontando grandes nomes da literatura contemporânea. Washington Silvera ----------------------------------- Madeira e tempo, golpes da/na imagem Desde que Washington me convidou para escolher fragmentos literários para esta exposição, um nome não me saía da cabeça: Euphrase Kezilahabi, poeta tanzaniano de expressão suahíli. Um poema dele em especial me rondava, poema que verti para o português: “Inundação”. O poeta descreve a força da palavra, que pode derrubar tudo, incluindo “uma árvore centenária ao lado da casa”. Ele diz que “todos os dias, observaremos suas raízes”. Muitos sentidos aí me interessavam: não era de hoje que eu ficava pensando nos trabalhos em madeira, em particular, do Washington, e o poema me parecia pronto para uma discussão do que eu havia elaborado mentalmente: tanto o poeta quanto o artista pensam nos objetos sendo (ou podendo ser) analisados pela sua subversão, pelo seu contrário, pelo inverso, ou pelos seus limites. Deixe melhorar “limites”: não as linhas de seus limites visíveis, mas as linhas da sua extensão quando tensionados ao infinito. O pequeno vira imenso, o leve torna-se pesado, o inusitado se torna tangível. A partir dessa ideia quase involuntária, quase um devaneio até então, eu passei a elaborar algo provisório, que foi tomando corpo nos meses seguintes: eu queria falar da madeira, do objeto tensionado e da força da palavra/ação “que pode ser como uma enchente” ou “como uma inundação”. Devemos levar em consideração um dito interessante: que para os gregos antigos “techné” dizia respeito a “tekton”, carpinteiro. Este profissional é o que molda a madeira (hylé), segundo Vilém Flusser. Pode então, ao moldá-la, transformá-la num banco, num navio ou num arco de guerra. O grave problema para a filosofia clássica era justamente o fato de a madeira ser alterada, ser deformada, ou seja, o artista, o artesão, era(m) impostor(es). Os latinos não traduziram “techné” e sim tinham uma palavra própria para isso, “ars”, que é uma “manobra”, um engodo, um engano, algo que ainda aparece em palavras como “artifício”, “artimanha” ou mesmo “artilharia”. O design moderno seria igualmente uma artimanha, a de transformar materiais originais em algo “falso”, mesmo que com objetivos de beleza. Gosto de pensar nisso vendo esses violões expandidos, os martelos que se agrupam como corressem atrás de si (peça antiga em que pela primeira vez aparece o martelo) ou como ecoassem aquelas fotos do começo da fotografia, em que havia uma obsessão para mostrar o movimento de homens, cavalos e trens, gosto de pensar nisso quando vejo materiais quase opostos (como o bronze e o espelho) dando as mãos numa escultura silenciosa e forte. A luva, antes leve, repousa pesada num espelho, como um Narciso derrotado. Eu levaria em consideração também que a distância que nos separa desses homens antigos encontra eco em outra metáfora da modernidade, a de que vemos o passado com uma luneta, desejando que ela seja uma lupa: vemos de longe, com o olhar da atualidade, mas queremos enxergar o grão da mostarda. Nessa exposição, temos o grande (o violão mais uma vez) e o pequeno (um mapa reestruturado). Esses jogos de escala aparecem já há um tempo na produção de Washington Silvera. São processos de investigação: o historiador usa a língua como ferramenta, construindo versões do passado a partir de dados e ilações; e o outro moldará a madeira (ou o bronze) até perverter sua forma, mesmo que lisa, ricamente cuidada na sua superfície quase brilhante, mas em ambos haverá a linguagem como meio ou como algo que “medeia” – e em ambos poderemos ver a árvore deitada por uma correnteza forte, admirando suas raízes, ou chorando sua queda, dizendo: “que pena, mas que raízes lindas! Elas ondeiam no ar como fumo ou como o pensamento”. Ainda emprestando a Flusser certo pensamento, disse ele que a máquina é uma extensão do corpo humano. Isso fica fácil de observar no caso de uma alavanca, extensão do braço, mas talvez nos falte sentido se vemos uma máquina que colha grãos em toneladas. De todo modo, os objetos são feitos para uma “extensão” do nosso organismo. Se não estorva nosso caminho, deve servir a algo, mesmo que de modo efêmero. Usado, pode perder o sentido. Mas e o que fazer com os objetos que não são exatamente feitos para o uso? O que fazer como objeto deformado, expandido, moldado num material distante do daquele original em que foi feito, seja pelo homem, seja pela natureza, seja por uma divindade criadora? Num estudo sobre os novos sentidos de “Gaia”, Bruno Latour chega à conclusão de que “quem observa a Terra como um globo, olha-a como fosse Deus”. Desenhamos uma esfera talvez porque queiramos pensar num ciclo, afinal somos atravessados pelas ideias de muitas rotações, em torno do eixo, em torno do Sol, e mesmo num movimento entre estrelas. Se estamos cansados da história, continua ele, como evitaremos a ideia de uma esfera flutuante e em movimento? Ela facilita nosso entendimento, pois precisamos de uma imagem, como precisamos de uma faca, um lápis ou um relógio. O objeto “esfera” nos acompanha, assim como os círculos e as circunferências. Se pensamos numa “bolha”, estará lá a esfera, oca e simples, efêmera mas presente. Não em vão um teórico como Sloterdjik pensará no ser (moderno, antigo, do futuro) a partir de uma esfera, seja ela a bolha de onde nascemos, o planeta que habitamos ou ainda o meio em que vivemos, nossa bolha. Nesse ponto em particular, sugiro especial atenção para a instalação “Mergulhadora”. Esses trabalhos de Washington Silvera, que seguem uma linha muito lógica investigativa de tempos, trazem essas reflexões todas: os limites da técnica (o artífice que molda a madeira até seus extremos), a noção do grande e do pequeno (metaforizados pela luneta e pela lupa), a observação do objeto como um deus ou um historiador o faria, de modo sempre profano. Explico essa profanação: os objetos aí são perversamente alterados – e isso não é a Filosofia ou a História que fará e sim a Arte. Ela que nos permitirá uma manobra, enganosa vontade ancestral, para que possamos olhar as raízes do lado oposto onde as raízes deveriam estar, como sugere Kezilahabi. Assim, motivos não faltarão para que sejamos instados a (re)pensar o objeto, se ele nos estorva ou se ele tem uso prático. Pensar o objeto, seja ele qual for, muito provavelmente nos auxilie a responder a grandes questões atuais. Numa época em que “os objetos nos observam” (Virilio retomando e revivendo Paul Klee ou Benjamin), talvez seja momento de olhar para os objetos de volta, assim como faz Washington quando encontra um pedaço interessante de madeira e uma ferramenta nunca antes utilizada. Ali, há tensões e desafios. p.s. eu pensei em fazer um texto dessa vez que mostrasse o diálogo com o artista muito mais do que uma descrição dos trabalhos. O espectador poderá fazer isso sozinho. Também não quis fazer uma exaustiva lista de autores com as fontes corretas, mas eis os pensadores que dão base a esta breve reflexão: Vilém Flusser, Bruno Latour, Peter Sloterdijk, Hal Foster, Yuk Hui, Agamben, Virilio e Eric Aillez, e claro, Kezilahabi. Enumerei mais de 40 poetas de muitas temporalidades e locais distintos, mas escolhi dez, um para cada trabalho exposto na Ybakatu. Como o artista me deu carta branca para a escolha, escolhi trechos de poemas, traduzidos por mim mesmo, respeitando os direitos autorais, de forma a cada trecho levar o espectador a outros caminhos mais e possíveis. Benedito Costa

 

 

Entrada actualizada el el 28 jul de 2021

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