No tempo das imagens virtuais, Gilbert Garcín faz pequenas montagens com quase nada, cola, tesoura, alguns materiais pobres. Multiplica os piscares de olho, desvia as referências. Poder-se-ia pensar que se diverte. Mas é precisamente o contrário: ele representa. É que o Gilbert Garcin é o sujeito e o objeto das suas próprias imagens. Constituirá este desvio um contínuo retorno a si próprio?
Ao travestir-se assim num personagem omnipresente, ao inventar aventuras inverosímeis em decors surrealialistas, o incorrigível bonacheirão continua a rir-se de si mesmo. A fotografia torna-se “a imagem da qual eu sou o herói”, multiplicando os episódios de uma ilusão cómica constantemente renovada. Nestes autorretratos em forma de simulações, o fotógrafo olha o fotógrafo que, possivelmente, faz de conta que é fotógrafo. Neste estanho espelho a realidade parece ausente. Contudo, o observador reconhece-se, herói grandioso e digno de piedade. Prometeu e Sísifo. Este jogo fotográfico - afastamento subtil, ironia leve...- traz de volta encanto às nossas vidas fugazes. É o bastante para lhes conferir um sentido.
Em o Barbeiro de Sevilha, O Fígaro justifica o seu bom humor: “Procuro rir-me de tudo, com medo de ser obrigado a chorar”. Pode ser-se sério. Mas sem levar tudo a sério. Com o humor não se brinca. Gilbert Garcín faz fotografia como Fígaro.
Entrada actualizada el el 02 oct de 2019
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