No período de isolamento social, Maria Lynch reunia galhos que serviam como base para a produção de suas novas pinturas. Nesses trabalhos, uma série de procedimentos acumulados ao longo de sua trajetória parecem ser realizados simultaneamente em uma mesma obra. Desenhos a grafite, campos de cores, trechos com padronagens decorativas e orgânicas se, antes, apareciam como a operação básica de séries isoladas, agora aparecem simultaneamente em um mesmo trabalho. Em um trecho, a cor é construída pela mistura de diversos tons, gerando cores rebaixadas; em outros parecem vir direto do pote; há apagamentos, transparências, áreas silenciosas e outras turbulentas, sem que cada elemento encontre exatamente uma síntese no seguinte.
Torrente, nesse sentido, é uma imagem aberta e contextual, mais que um conceito propriamente. Em sua definição, um sinônimo de fluxo d’água, força que se propaga com intensidade, intensidade ou excesso. A sonoridade em português, espanhol ou inglês reitera a ideia de...algo sinuoso e em fluxo. Na exposição, a corrente de imagens, cores e formas diz de algo interno à própria prática de Lynch, mas também de cada trabalho individualmente. E para onde esse rio flui? Onde esse fluxo desagua?
A exposição reúne trabalhos recentes e alguns de outros períodos, em um esforço de entender essa ideia de fluxo tanto neste momento, quanto ao longo da produção e considerando os diferentes meios de produção da artista, ainda que a pintura ganhe centralidade neste texto, pela dimensão sintomática desta mídia para a discussão.
Parece próprio à essa linguagem a ideia de fluidez. A maneira de pintar de Maria Lynch e seus “temas” também dizem desse lugar. As passagens sem atrito entre as formas parecem ocorrer bastante positivamente, como se nenhum limite de classe, gênero, raça, tempo, espaço se impusesse na continuidade dessas formas, num continuum irrestrito - ainda que signos dessas experiências apareçam na superfície, escala e imaginário do trabalho.
As novas pinturas de Maria Lynch foram produzidas durante o período da pandemia, acentuando um isolamento social que favorece práticas como a pintura ou a escrita. Nos últimos dez ou quinze anos - período de formação de sua produção- pudemos ver mudanças sociais significativas no Brasil,que transitam das tentativas de reparação e igualdade social a momentos regressivos e conservadores. Nesse contexto, abandonar-se ao fluxo do desejo - próprio a esses motivos, próprio à prática da pintura - talvez carregue a contradição entre o sujeito e o mundo, o tempo histórico e subjetivo, do ateliê.
Sobre a artista
Maria Lynch (Rio de Janeiro/Brasil, 1981) Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Nova York. Em 2008 finalizou sua pós-graduação e um mestrado pelo Chelsea College of Art and Design em Londres. Realizou inúmeras exposições individuais e coletivas. Suas principais exposições incluem The Jerwood Drawing Prize, uma mostra itinerante em Londres e pela Inglaterra em 2008, Nova Arte Nova no CCBB do Rio de Janeiro e São Paulo com curadoria de Paulo Venâncio. Em 2010 foi contemplada com o prêmio FUNARTE Marcantônio Vilaça. Em 2011 ela foi convidada para a sexta bienal de Curitiba, Vento Sul, com curadoria de Alfon Hug. Em 2012 maria exibiu a instalação Ocupação Macia, no museu do Paco Imperial, no Rio de Janeiro e a performance Incorporáveis, no Museu de Arte do Rio de Janeiro. Ela foi convidada para Mostra de Jogos da Olimpíada de Londres, no Barbican Centre. Em 2013 maria apresentou a exposição individual Acontecimento Encarnado na galeria Anita Schwartz no Rio de Janeiro, foi selecionada e em um edital público pela Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro e a exposição Bordalianos do Brasil na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa Portugal. Após fazer a Residency Unlimited em Nova Iorque em 2014 ela foi contemplada com um prêmio pela Embaixada Brasileira para uma exposição no Storefront for Art and Architecture, também em Nova Iorque, Estados Unidos. A artista tem obras em importantes coleções, como o Museu de Arte Contemporanea Niterói, Brasil, Centro Cultural Candido Mendes, Rio de Janeiro, Brasil, Commite Olímpico Fine Arts, Londres, UK, Coleção Gilberto Chateubriand, Brasil/MAM-RJ, Rio de Janeiro, Brasil, Ministério das Relações Exteriores – Palácio do Itamaraty, DF, Brasil, Fundação Getúrlio Vargas, Rio de Janeiro, Brasil
Sobre a Galeria Karla Osorio
Criada em 2015, a galeria Karla Osorio atua para inserção de artistas contemporâneos no mercado e na cena institucional. Privilegia a produção mais inovadora em arte, com programa de exposições temporárias que fomenta várias linguagens e técnicas. Representa artistas brasileiros e estrangeiros, inclusive Daniel Escobar. Participa de feiras de arte em vários países, sendo a única galeria de Brasília em algumas das melhores feiras do mundo em cidades como Basiléia, Chicago, Miami, Nova Déli, Nova York, Punta (Uruguai), além de Rio de Janeiro e São Paulo, entre outros. Apoia pesquisas e projetos inovadores, tem programa de cursos, palestras, parcerias com outros espaços e instituições, além de intervenções no espaço público. Desenvolve projetos com curadores visitantes e oferece residência artística com atelier, em espaço privilegiado. Atua também no mercado secundário. Além da sede em Brasília com espaço expositivo no Lago Sul, possuiu escritório em São Paulo.
Imágenes de la Exposición
Vista de la exposición "Torrente" de Maria Lynch. Fotografía de Jean Peixoto — Cortesía de Galeria Karla Osorio
Entrada actualizada el el 01 feb de 2021
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