Em Transeunte, reúne-se um conjunto de representações de paisagens, realizadas em desenho e com uso exclusivo de manchas de carvão. São paisagens de ruínas, muros e outras estruturas, também pormenores de espaços, temas que desde cedo absorveram a atenção do autor. As imagens apresentadas seguem a sua linha evocativa, já conhecida, de locais transfigurados que aguardam, na periferia da cidade, o seu próximo destino.
Estes desenhos manifestam o interesse escatológico do autor pelo tema da transitoriedade. Exibem uma descrição algo detalhada da desintegração dos espaços e das coisas enquanto formas, acrescentando-se uma elaboração subtil, mas densa, de atmosferas nebulosas - por um lado decorrente de uma identidade estética e expressiva, por outro, da necessidade de sublimação do tema identificado.
A seu modo, esse encanto cativante das paisagens marcadamente atmosféricas, que nos lembra várias representações barrocas ou românticas em vedutas e capriccios com ruínas da antiguidade, atenuam o sintoma negativo da ruína moderna...como resultado de ações humanas indiferentes - alvo de vandalismo e espaço oportuno para depósito de lixo de construção - ao passo que também é tomada como um empecilho ao avanço de projetos corporativos ou de outro interesse privado ou comunitário-civilizacional. Produz-se um contraste entre todo esse negativismo e o prazer estético e contemplativo de um espectador surpreendido.
No fundo, como já se disse a propósito da mais recente exposição (Paisagens-Fantasmas, 2021), estes conjuntos de desenhos transmitem a perceção de um território desfigurado. Mais ainda, salientam uma densidade psicológica proporcionada na visão subjetiva do autor, que nos dá acesso a um lento progresso de diluição de existências, identidades e memórias.
L.F.L. 2022
Entrada actualizada el el 31 ene de 2022
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