Exposición en Lisboa, Portugal

Últimos sons

Dónde:
Galeria Vera Cortês / Rua Joao Saraiva, 16 - 1 / Lisboa, Portugal
Cuándo:
22 feb de 2024 - 28 mar de 2024
Inauguración:
22 feb de 2024 / 17.30 a 20.30
Precio:
Entrada gratuita
Comisariada por:
Organizada por:
Artistas participantes:
Descripción de la Exposición
A GALERIA VERA CORTÊS tem o prazer de anunciar a primeira exposição individual de João Pimenta Gomes na galeria. Uma parede pintada de preto no centro da galeria, como que coberta por um véu escuro, recebe o público com um vazio magnético. É um signo zero, um espaço a ser preenchido pelas perceções de cada um. No ambiente, os poucos objetos expostos demarcam diferentes experiências sensíveis. Existem quatro sintetizadores modulares dispostos no chão, cada qual conectado a um speaker alçado no alto: corpos simbióticos que, respetivamente, produzem e emitem um som continuamente. Contudo, só permitirão que os seus áudios venham à tona mediante a aproximação de um corpo. Em diálogo com essas peças, há uma fotografia de 35mm que oferece a única imagem desta exposição. Muito embora a cena seja de aparente banalidade, há qualquer enigma no seu interior que guarda a gravidade emocional do momento retratado. Desse modo, a fotografia ... performa o mesmo gesto das instalações de som: revela as suas frequências interiores somente àqueles que estão dispostos a aproximar-se do seu mistério. Intitulada “Últimos sons”, a primeira exposição individual de João Pimenta Gomes na Galeria Vera Cortês traz, por meio dessas intervenções pontuais, o núcleo da sua pesquisa sobre as interações possíveis, tanto físicas quanto subjetivas, entre corpo, som e espaço. Nesse sentido, o artista cruza conceitos e exercícios sensoriais, e orquestra instrumentos analógicos e digitais para criar experiências ambientais e engendrar narrativas indefinidas, abstratas e não lineares. As suas obras testam as nossas faculdades sensoriais, mas sobretudo a nossa capacidade de processar o mundo que nos cerca. As quatro fontes de som situadas no espaço trazem em si um binómio físico que contrasta o aparato tecnológico das suas bases produtivas e as formas sintéticas e econômicas do seu topo comunicador. Ao passo que os synths deixam visíveis os mecanismos do seu funcionamento, com uma estética do caos de cabos e conexões aparentes, os speakers customizados assemelham-se a cavidades bucais cantando por entre dentes afiados, numa manifestação que remonta à magia ou a uma tecnologia que desconhecemos. A sua anatomia peculiar confere-lhes o aspeto de entidades vindas do universo da ficção científica. Essas grandes bocas permanecem tapadas, até que uma presença invoque a sua reação. Ao chegarmos perto, entretanto, não nos abocanham, mas permitem que escutemos os sons que estão sendo produzidos ali. Abandonam seu voto de silêncio e passam então a sussurrar-nos ao ouvido, emitindo algo entre o gutural, o arcaico e os sons de avançadas tecnologias. As suas sonoridades convidam à meditação contemplativa, mas também despertam nostalgia e melancolia. Como uma nova liturgia, esses sons são réquiens que choram a perda dos segundos que vão passando enquanto os escutamos. São meta-músicas sobre nossa própria perceção do espaço-tempo. O procedimento faz lembrar uma famosa frase com versões atribuídas a Mozart e a Debussy, sobre a essência da música não estar nas notas e sim no silêncio entre elas, e que mais tarde foi sintetizada por Miles Davis assim: “It's not the notes you play, it's the notes you don't play.” Há, portanto, a clara referência às investigações sobre o espaço negativo na música, sobretudo o legado de John Cage e seu 4’33”, as teorias e práticas de deep listening, e os fundamentos da ambient music. A composição com processamentos em loops eternos, por exemplo, lembram as peças emblemáticas de William Basinski. Por fim, há a influência definitiva do spiritual jazz, género que abrange um amplo espectro de produções que combinam vertentes exploratórias do jazz com tradições esotéricas orientais e temas ligados à transcendência espiritual. Já a fotografia traz uma figura humana, debaixo de roupas e cobertas brancas, cujas mãos desnudas estão munidas de um garfo plástico e de um pedaço de bolo red velvet num recipiente de metal descartável. Na sua captura, a fotografia resgata o imaginário do cinema clássico, de uma época que produziu imagens perenes e duradouras. Na suspensão temporal daquele instante, enquanto testemunhamos o bolo aguardando o abate, podemos intuir o fluxo dos desejos em ação e a camada existencial por detrás da cena pueril. Nesse momento de transição, entre uma garfada e outra, a figura elabora suas questões, descansando os traumas do quotidiano no conforto da cama e do paladar. Bem perto da imagem, é como se fosse possível ouvir a embalagem de alumínio fino sendo amassada pelo toque das mãos, o garfo penetrando o bolo, os ruídos do sistema digestivo e a metabolização dos sentimentos. A configuração física das peças sonoras, a fantasmagoria dos sons, e a densidade da fotografia colaboram para criar uma forte carga atmosférica, remetendo para a dimensão psicológica de espaços liminares, lugares de transição que evocam em igual medida familiaridade e estranhamento, acolhimento e rutura, e um sentido de espera e suspense. Soma-se à situação espacial o título sugestivo da exposição, cravado numa ambiguidade que não se resolverá. “Últimos sons” refere-se, dinamicamente, tanto às peças sonoras mais recentes que o artista produziu e que podem ser ouvidas no espaço, quanto à ideia de sons essenciais ou derradeiros. Diante dessas sonoridades particulares, que preenchem o ambiente ao serem ativadas pela nossa presença, podemos pensar numa espécie de ritual, um momento de autoconhecimento e auscultação. Na tensão entre as noções de ausência e presença, o artista estuda a relação inerente entre o silêncio e o som, examinando a condição — metafísica e fisiológica — em que nos encontramos antes e depois de ouvir um som, imersos no momento mudo. E como silêncio e som só podem existir em contraste um com o outro, somos impelidos a chegar perto e destapar as bocas, seja para que comam um quitute reconfortante, ou para que manifestem as frequências sonoras mais íntimas e essenciais: os “últimos sons”. Germano Dushá, 2024 ------------------------------------ BIO João Pimenta Gomes (Lisboa, 1989) é artista visual e músico, e vive e trabalha em Lisboa. Estudou Produção Musical, Fotografia e Desenho e é professor convidado de Som e Imagem na Escola das Artes da Universidade Católica do Porto. A prática artística de João Pimenta Gomes parte de referências do campo da música e explora as relações entre o espaço e o corpo através da manipulação de sintetizadores modulares, imagens, vídeos e objetos. Proporcionando encontros entre o analógico e o digital, o sensorial e o conceptual, é no cruzamento com a performance e em eventos ao vivo que o artista amplia estas relações e encontros estendendo-os à interação com o espectador. No contacto com as obras, este é convidado a observar a génese da ideia musical e da composição sonora, fazendo do corpo – da sua aproximação, afastamento ou modelação – um elemento central no processo de criação. Entre os projectos, exposições e performances ao vivo destacam-se: a exposição colectiva Esfíngico Frontal (curadoria de Germano Dushá), Galeria Mendes Wood DM, São Paulo, 2023; Poly-Free, MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, Lisboa, 2022; Alto Mar / Metavox, Palácio Nacional de Belém, Lisboa e Les Laboratoires d’Aubervilliers, Aubervilliers, 2022; Doppelganger III, Sound & Future, Plataforma Revólver, Lisboa, 2022; Doppelganger VII, Lux Frágil, Lisboa, 2022; Clouds, Kunstraum Botschaft, Berlim, 2021; Trabalho de Inverno, Galeria Quadrado Azul, Lisboa, 2021, enquanto membro do grupo Matéria Simples com o qual também realizou A Ilha de Calipso, Appleton Garagem, Lisboa, 2020; e Micro Ressonâncias (Appleton Box, Lisboa, 2020).

 

 

Entrada actualizada el el 23 feb de 2024

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