O artista compara as mulheres de suas pinturas a um pássaro de pernas longas: 'Elas se movimentam com dificuldade. Adolescentes que não estão acostumadas ao seu novo corpo feminino. Dificuldade essa que irá atrapalhar a fuga dos perigos. Elas são como vítimas propícias a um predador'.

A coexistência entre opostos, tanto nas figuras criadas como na forma de criar, apura o poder visual das obras de Xevi Solà. Com grande habilidade na pintura, o artista opta em muitos quadros por deixar o fundo inacabado, ao lado de personagens muito bem trabalhados. As pinceladas pequenas e cuidadosas que se revelam nos corpos, muitas vezes se opõem aos rápidos traços encontrados nas paisagens ao fundo.

Apesar de ser espanhol, encontra-se uma aura americana no trabalho do artista. Ele explica que os EUA tiveram papel fundamental na construção de seu imaginário, tendo em vista que assistimos a seus filmes e séries e somos bombardeados por sua estética desde a infância.

Em seu texto, sobre a nova exposição de Xevi Solà, o jornalista e crítico de arte Leonel Kaz define um pouco o trabalho do artista: 'O estranhamento que, a princípio, a obra do artista parece representar é secundário em relação ao som que ela provoca. Não se trata de sinestesia (apropriar uma coisa pela outra, um sentido pelo outro). O que se trata é de tentar exaltar cada figura, presa, inexoravelmente, a seu fundo. Este fundo que é cenário de dissonâncias rítmicas, como se houvessem duas telas na própria tela pintada. Dois conjuntos dissonantes, de frequências distintas: as figuras e o fundo'.