Exposición en Lisboa, Portugal

Dentes até aos ossos

Dónde:
Uma Lulik - Arte Contemporânea / Rua Centro Cultural 15 – Porta 2 / Lisboa, Portugal
Cuándo:
13 ene de 2023 - 25 feb de 2023
Inauguración:
12 ene de 2023
Precio:
Entrada gratuita
Organizada por:
Artistas participantes:
Enlaces oficiales:
Web 
Descripción de la Exposición
Corpos-Arma Sobre a exposição Dentes até aos ossos, de Carolina Serrano Um bolbo vermelho toma conta do nosso olhar. Ao longe, parece quase um borrão na parede branca por onde escorre, cristalizando-se a caminho do chão, suspendendo a iminente queda e colapso. A percepção altera-se com a proximidade. A obra ganha um corpo, viscoso como sangue, e o nosso globo ocular preenche-se de vermelho vivo, invadindo e contaminando o nosso interior, percorrendo velozmente todos os seus vasos sanguíneos. Gilles Deleuze dizia que os artistas regressam do caos, onde mergulham durante a realização de uma obra, com os olhos vermelhos e os vasos inflamados, perante as visões aí obtidas. No apaziguamento e na certeza de um regresso, as visões transformam-se em corpos que passam a conter um conjunto de forças mágicas, capazes de criar, naquela ou naquele que as apreende, um resquício das forças livres e transbordantes do caos (sendo este o “prolongamento ... projectivo da compreensão que surpreende a inseparabilidade das forças destrutivas e criativas da natureza, da vida”1). Nem todos os artistas sucedem nesta passagem (alguns sucumbem mesmo à queda perpétua sob a forma de loucura ou morte). Outros fazem dela o receptáculo da sua própria obra, procurando criar uma obra-corpo que se situe no espaço intercalar que esta passagem ou fenda (como Deleuze a nomeia) abre. Será, talvez, das tarefas mais difíceis: criar uma obra que conserve em si o exercício da violência das forças do caos, toda a trajectória do artista por este, e, simultaneamente, a tranquilidade da irreversibilidade no regresso e na obra (que deve conter uma certa medida que a impeça de se auto-destruir). Que formas, que aspecto, que materialidade podem receber estas obras-corpo ou, simplificando, estes corpos (porque, na transmutação, ganham uma vida própria, muito para além da analogia e da metáfora)? Esta passagem ensaia, perpetuamente, uma outra, a primeira ocorrida no início do Mundo, aquela a que a forma — enquanto cristalização das forças insubmissas do caos e criação respectiva de uma ordem sintetizadora, que doa à forma os seus princípios internos de composição (que, para uns, serão imutáveis, enquanto, para outros, serão sempre vestígios do combate “nunca levado ao seu termo”2 de resposta ao caos) —, pretendeu eliminar, estratificando as coisas e os seres, classificando as diferenças, erradicando o informe, o vago, o impreciso, o entre-dois… Na sua obra, a artista Carolina Serrano tem-se dedicado a pensar as categorias universais, que resultaram desta estratificação, que poderão ser atribuídas ao humano, interessando-lhe, particularmente, a divisão entre o bem e o mal, que se imiscui tanto nas decisões arbitrárias e quotidianas, como nos desígnios mais elevados da humanidade na sua acção sobre o Mundo. Por conseguinte, a sua obra reveste-se de uma incerteza inquietante, que se pressente primeiro subtilmente, tomando conta lentamente dos corpos, até ao momento em que se torna insuportável, podendo atingir uma dor muito perto daquela física, de uma fina lâmina atravessando a pele… Coincidindo com uma passagem física no espaço da exposição, aquele primeiro corpo dilacerado e em carne-viva ressoa em nós como uma semente do mal (sendo este uma síntese de tudo quanto fere os corpos) e da dor, remetendo, ainda, para a primeira sugestão de um bolbo que, ao invés de crescer, parece desistir de florir. À semelhança do que ocorre nos artistas, somos apaziguados, momentaneamente, pela passagem à luz cândida e aurática, que emana do conjunto de esculturas — que se revela na transposição do limiar — e das paredes brancas que as envolvem. A parafina, utilizada na cor branca imaculada, pela primeira vez, pela artista (exigindo-lhe um controlo asséptico total na sua manipulação no atelier para garantir a sua pureza), intensifica esta ilusão. Como sucede, por exemplo, com o gelo, a sobreposição de várias camadas transparentes cria a ilusão, na nossa retina, da cor branca opaca, que sob os mistérios da luz, atribui às esculturas uma translucência e uma diafaneidade espectrais. Há uma parte do trabalho do material que é conservada e, ao nosso olhar e pensamento, ocorre a suavidade e a temperatura da parafina, muito semelhantes à nossa pele, e as forças de escorrimento e de pregueamento, quando desliza pelas superfícies ou quando desafia a força da gravidade, reveladas nas texturas solidificadas que, no entanto, conservam, virtualmente, esse movimento que seguimos com a imaginação (ou consciência) do corpo. Sob a luz branca vibrante, será necessário avançar para as esculturas se revelarem plenamente e descobrirmos as singelas diferenças, num percurso intenso e vacilante, entre receio e encanto. Nada é o que parece. No espaço intercalar, entre-obras, somos dominados pela ameaça latente, uma força invisível que advém daqueles corpos, uma violência dissimulada, pois reveste-se de uma alvura (quase) celestial, e, simultaneamente, insuportável. O animal e o vegetal de um código ADN longínquo, que nos define, também, evidenciam o carácter sociopolítico da natureza da violência. O corpo assume-se como um espaço de guerrilha — um corpo-arma — constituindo-se como ameaça, ao mesmo tempo que denuncia a sua vulnerabilidade e a iminência — essa possibilidade inescapável desde o momento da queda original — da ferida (expressa, de forma mais evidente, ainda que subtil, na fenda vermelha de uma esfera pura e branca). Também nós somos plantas e bichos, eriçando o pêlo, erguendo o ferrão, ameaçando com espinhos, cravando as garras ou os dentes, descobrindo, paradoxalmente, empatia na violência e fragilidade no corpo-arma. Esta ambivalência entre ameaça e protecção, violência e pureza, beleza e horror, bem e mal, pertence tanto às esculturas, que criam esse espaço intercalar em si mesmas, por vezes mediante entrelaçamentos, por outras, mediante depressões, sulcos ou vazios que complementam uma qualquer totalidade, como a cada um de nós, corpos errantes pela vida. Existirá alguma certeza no meio desta errância ou na expressão de uma vontade? Como contraponto — a forma perfeita que responde, directamente, à incomensurabilidade e indiscernibilidade do caos —, coexistem no espaço obras com uma base geométrica, corpos-receptores, como a artista os define. Relembrando Louise Bourgeois, a geometria — de que a esfera, a linha recta e o ponto são expressões elementares — é um sistema que nunca nos trai e onde tudo é possível antecipar.3 Contudo, ao olhar persistente, revelarão outros segredos… – Susana Ventura Janeiro 2023 1. Maria Filomena Molder, As Nuvens e o Vaso Sagrado (Lisboa: Relógio d’Água, 2014), 152. 2. Idem, Ibidem. 3. “Studying geometry, I learned a system in which things proceed without surprises. One is, essentially, safe. That was a revelation: that it was possible to anticipate! You could predict the position of the stars. The sun would rise where it was supposed to. It never failed you. Never betrayed you,” Louise Bourgeois, Destruction of the father. Reconstruction of the father: writings and interviews 1923-1997 (London: Violette Editions, 2005, 3rd edition), 113.

 

 

Entrada actualizada el el 02 mar de 2023

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