Exposición en Cascais, Lisboa, Portugal

Do Ocidente ao Oriente: DIÁLOGOS

Dónde:
Fundação D. Luís I - Centro Cultural de Cascais / Av. Rei Humberto II de Itália, s/n / Cascais, Lisboa, Portugal
Cuándo:
22 abr de 2016 - 24 jul de 2016
Inauguración:
22 abr de 2016
Organizada por:
Artistas participantes:
Descripción de la Exposición
UMA VIAGEM SEM FIM A interrogação da história portuguesa no seu período áureo, os séculos XV e XVI, e a reflexão sobre a permanência dos sinais visíveis dessa história na nossa contemporaneidade têm ocupado o núcleo central do trabalho plástico de Isabel Nunes. Este tema, que hoje é tão raro quando olhamos para a arte actual, é em parte explicável pela singularidade do percurso da pintora. De facto, e apesar de deter um talento que se revela cedo, ainda na infância, Isabel Nunes apenas decide dedicarse exclusivamente à pintura depois de estudos universitários em História e História da Arte. Se acrescentarmos que a sua formação como artista plástica se fez depois, sobretudo em terras estrangeiras – em Macau, onde viveu alguns anos, na Itália e em Londres -, começam a desenhar-se algumas respostas possíveis para esta obsessão que a pintora revela em relação ao passado de Portugal: a distância é sem ... dúvida um dos factores que possibilita a indagação sobre a identidade de alguém, identidade que também é histórica. Do Ocidente ao Oriente. Diálogos, o nome que escolheu para esta exposição, introduznos plenamente neste leque de questões conceptuais que norteiam a prática de Isabel Nunes. A pintora apresenta aqui diversos núcleos de pinturas que se podem agrupar, muito esquematicamente, segundo alguns dos géneros que a história definiu para a prática artística. Naturezas-mortas (mas sistematicamente de objectos relacionados com a cultura oriental), retratos (que numa observação mais atenta se revelam serem imagens de máscaras oriundas de diferentes pontos do antigo império colonial português), paisagens (ou melhor, apontamentos arquitectónicos inseridos num espaço indiferenciado, brumoso), e aquilo que poderíamos chamar assemblages, ou seja, apresentações tridimensionais de objectos e pinturas no espaço expositivo. Neste último campo tem destaque uma das peças que integram a exposição e que, se não condensa em si todo o conceito subjacente à mesma, convida à participação do visitante no significado global da obra. Falamos, como é evidente, de um imenso quimono feito em chita de Alcobaça, uma peça que reúne na sua forma e textura aquela que é uma constante na obra de Isabel Nunes: a conjunção, a contaminação, o diálogo, enfim, como diz o título da exposição, entre duas culturas diferentes. Convirá talvez aqui debruçarmo-nos sobre este conceito de diálogo. Ele pressupõe evidentemente uma troca de ideias através da linguagem verbal (ou não), mas também uma simetria que está ausente, por exemplo, da lição e da explicação. Em qualquer destes dois últimos tipos de discurso existe sempre um orador que está na posse do saber, e um ouvinte que recebe esse saber. No diálogo, de que a história guardou alguns exemplos célebres, importa tanto o resultado final da conversa como o caminho que se tomou para lá chegar. É, no fundo, uma forma de conhecimento que pressupõe um movimento, uma viagem do desconhecido para o saber, mas que é sempre uma descoberta feita por dois ou mais participantes, nunca por um só. As analogias com o trabalho e o tema central da obra da pintora são, por isso, muitas, e decerto nada têm de fortuitas. A assemblage, por exemplo, é também o processo escolhido pela artista para apresentar uma série de pinturas dentro de caixotes que convoca o nosso imaginário sobre as viagens de comércio entre Oriente e Ocidente posteriores ao século XVI. Mais uma vez, o propósito de Isabel Nunes é também o de invadir o espaço do visitante, convidando-o a contribuir com a sua interpretação para a abertura de significado da obra na sua totalidade. Contudo, este mesmo visitante poderá agora interrogar-se sobre a própria matéria e o estilo adoptados pela pintora. A obra de Isabel Nunes manifesta desde o início a vontade inequívoca de aliar a temática histórica à adopção de uma prática da pintura que radica profundamente nomodernismo. Encontramos aqui não apenas o espaço estilhaçado a que outros estudiosos do trabalho da artista já fizeram referência, de longínqua invocação cézanniana e cubista, como também a cristalização num espaço bidimensional, onde as referências à perspectiva linear ocidental são quase inexistentes, que possui afinidades evidentes com o pensamento reflexivo sobre o suporte da pintura característico de toda a modernidade. Para nos ficarmos apenas no século XIX, já que Cézanne, o primeiro a tentar a desconstrução formal é dessa época, teremos que refenciar obrigatoriamente Manet, não o Manet de O Almoço da Relva, mas aquele que cortava obrigatoriamente qualquer ilusão de profundidade em O Bar das Folies Bergère ou em A Varanda. O que nem Manet nem Cézanne podiam na época intuir era que questionar as representações instituídas do espaço ou da forma significava também problematizar todo o contexto que mantinha essas representações, e isto até às suas mais ínfimas ramificações políticas, sociais e económicas. E, nisto, incluía-se também a narrativa da história passada que é sempre justificação de um futuro que se quer ou manter, ou transformar. Dito de outra forma, não é possível alterar o modo de representação da história sem mudar o próprio conteúdo subjacente a esse modo de representação. Nem Manet nem Cézanne, alguns anos depois do Romantismo que se tinha dedicado a traduzir a glória épica de cada povo, se interessaram por essa temática. Vai ser preciso esperar mais de meio século para que a voltemos a encontrar na arte internacional e, já na altura, também na arte portuguesa. De facto, o século XX português foi ávido de representações históricas, quer elas assumissem plenamente um aspecto didático e apologético, quer traduzissem uma inquietação óbvia sobre a identidade nacional. Tudo indicava que, à medida que os avanços técnicos e a globalização criavam mais e mais uma cultura ocidental única onde as idiossincrasias nacionais pareciam pouco valer, os artistas respondiam a esta inquietação sobre o seu lugar no mundo com obras admiráveis acerca da identidade portuguesa. Como não recordar aqui a série sobre os reis de Portugal que Costa Pinheiro criou nos anos 60, ou o trabalho notável de desconstrução do paradigma da escultura historicista do Estado Novo levado a cabo por Cargaleiro? A ambição de Isabel Nunes não é esta. A época é outra, e o que parecia urgente e necessário nos anos 60 já não o é. Isabel Nunes não necessita já de desmontar narrativas da História, ela que vive num tempo em que lhe importa preservar os vestígios sempre presentes dessa mesma História. E esta é uma pintura de vestígios e fragmentos, quantas vezes considerados no sentido literal destas duas palavras. O papel de arroz, o pivete que acabou de arder, a máscara, a porcelana e o pormenor arquitectónico constroem um mundo onde a comunicação ainda é um facto. Como numa escavação arqueológica, o que é possível perceber da realidade é, afinal, uma dinâmica, um percurso, um caminho entre o que os fragmentos nos vão contando. Dito de outro modo, a realidade é fruto de um desses diálogos sem fim que, palavra a palavra, forma a forma, cor a cor, parece interrogar em vez de responder. Como se fosse mais importante questionar, afinal, do que obter uma resposta. Luísa Soares de Oliveira

 

 

Entrada actualizada el el 19 may de 2016

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