Descripción de la Exposición
O percurso destes artistas, de gerações muito próximas, tem vindo a desenvolver-se, em ambos os casos, em torno de universos ficcionais que configuram efectivas mundividências. Em qualquer dos casos, os projectos destes artistas vão-se articulando entre si ao longo do tempo, tecendo continuidades e desvelando genealogias pessoais em percursos idiossincráticos e completamente únicos.
A construção da exposição parte da possibilidade de fazer conviver as obras, convocando novos sentidos e acrescentando novas complexidades à teia de relações que cada um dos projectos possibilita. As obras que se apresentam, nas três salas do espaço da Chiado 8 (os dois filmes em 16mm de Pedro Paiva e João Maria Gusmão e as peças de Francisco Tropa) possuem em comum a remissão para contextos ficcionais cujos contornos nunca são explícitos, bem como um fino humor que assenta, em ambos os casos, na ambiguidade entre a real possibilidade e a construção ilusória. Em ambos os casos, também, esta ilusão, o golpe do prestidigitador, denuncia-se desvelando o mecanismo interior da possibilidade sedutora do mistério.
As obras de Francisco Tropa - parte delas já, aliás, apresentadas, noutras condições, neste mesmo espaço, fazendo parte da série de trabalhos genericamente intitulada Tesouros Submersos do antigo Egipto, foi apresentada pela primeira vez em 2008-2009, com uma sequela em 2013, tendo conhecido uma continuação em 2015 na exposição apresentada no Pavilhão Branco do Museu da Cidade e ainda um capítulo final exposto no mesmo ano no Musee Regional d’Art Contemporain Languedoc-Roussillon. O título da série, na sua duplicidade, aponta para um hipotético conjunto de relíquias recuperadas ao esquecimento e a um tempo perdido. Evidentemente, tal não é o caso, mas o caráter intemporal dos objectos de madeira e a efectiva aparência do exercício de uma arqueologia antropológica (que junta as memórias de Raymond Roussel, de Michel Leiris e Georges Bataille) envolvem o conjunto num halo de anacronia que perpassa pelas diferentes técnicas e suportes.
Refira-se que os objectos remetem para a história da escultura, para o seu carácter evocativo e funerário, para as técnicas de encaixe e entalhe, programaticamente ostentando o carácter anacrónico. No entanto também os desenhos, na sua teia de referências a escritas codificadas, ou os diapositivos projectados, se encontram embebidos do mesmo manto de aparente obsolescência e anacronia.
Esta característica também se encontra patente em ambos os filmes de Pedro Paiva e João Maria Gusmão. Em primeiro lugar pela utilização de filme 16mm, dispositivo que estes artistas têm vindo a usar sistematicamente, que possui uma fisicalidade inerente à película e ao flickering. Mais importante, no entanto, é o universo que estes artistas convocam: a memória da Patafísica, a construção metafísica irónica de Alfred Jarry que conduz à produção de uma ciência do individual e que questiona, na sua retórica paradoxal, a possibilidade do mundo como entidade explicável. Nesse sentido, podemos imaginar que esta exposição de Francisco Tropa e Pedro Paiva e João Maria Gusmão é a apresentação e o confronto entre uma epistemologia e uma antropologia paradoxais, unidas pela poética irónica da anacronia e pelo fascínio pelo que não é redutível a qualquer regra, nem condensável em qualquer discurso explicativo. Nesse sentido, também este texto é já redundante e excessivo, necessariamente, como qualquer tentativa de interpretação, votado ao fracasso.
Delfim Sardo
Exposición. 14 may de 2025 - 08 sep de 2025 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España
Formación. 30 oct de 2025 - 11 jun de 2026 / Museo Nacional del Prado / Madrid, España