Decidi fazer esta exposição -Imagens e Tempo- por achar que tem trabalhos que deviam poder ser vistos sobretudo as coisas mais antigas.. No fundo é essa a finalidade e sentido do trabalho artístico.

São trabalhos que datam de 1976 a 2010 que tenho na minha posse. Com linguagens e técnicas diversas, caminhos interrompidos, ou apenas esboçados, um conjunto fragmentário do que é um todo de períodos de tempo e experiências díspares. Há um número razoável de outros trabalhos que não são públicos porque ao longo destes trinta e tal anos passaram à posse de privados principalmente por venda ou cedência.

Há trabalhos que são públicos agora ou foram uma ou duas vezes, avulsas, se tanto. Em geral são caminhos apontados que por uma razão qualquer não tiveram continuidade. ... Tiveram a qualidade de dar respiração, libertar e permitir de algum modo mudar de assunto e continuar.

Ficam ideias por explorar, é normal. Surgem outras, movidas por um gesto inicial qualquer, mesclando inesperadas influências, em conflito permanente. O resultado final, é, sempre, a distanciação, que acaba ou não por sancioná-lo. As possibilidades do campo criativo são imensas, infinitas como o próprio universo, por isso...

Ficam despojos pelo caminho, coisas meio feitas, que o tempo e o que se vai sobrepondo, se encarregam de esconder de cena.

A acumulação avulsa de objectos provoca impulsos que desviam a atenção para outra coisa, por vezes. Acontecem frequentemente os acasos e isso inquieta e confere uma espécie de vontade própria às coisas feitas, um automatismo que se aceita ou não.

Comecei 'oficialmente' a pintar, porque eu posso abraçar-me a uma escultura mas a uma pintura não... e encontrei nisso uma sedução contraditória. A pincelada, a mancha ou a obliteração os salpicos e escorridos, funcionam como narrativas, camadas de tempo, sedimentos de transparências ou opacidade e sentimentos indefiniveis que adentram noutros domínios, noutra dimensão. Foi por isso..

Todos os 'desvios' deste conjunto de trabalhos, contêm na essência um sentimento de liberdade e a recusa de catalogações que encarcerem o pensamento. E é tudo.