Descripción de la Exposición
A terceira exposição de Sebastião Resende no Sismógrafo é acerca de um tempo que falta, que faltou, seja por razões da reforma do calendário, no século XVI, seja pela estranha omissão da palavra amanhã/ tomorrow num dicionário bilingue do século XX. Embora o alcance de ambas as situações seja distinto – o primeiro caso resulta de decisões político-religiosas, enquanto o segundo se deve a uma enigmática decisão ou erro não detectado durante o processo de impressão–, elas tocam-se de um modo estranho, pois neste período de suspensões de direitos em que vivemos, esse desaparecimento dos dias diante dos nossos olhos ecoa numa espécie de futuro adiado porque ele também confinado pelas decisões do presente.
O artista propõe assim uma reflexão – essa paragem no tempo que a arte favorece – acerca dos modos como quer a política, quer o sujeito, indeterminado no caso do dicionário, interferem nas nossas vidas. Esse convite é feito com recurso aos habituais meios de expressão de Sebastião Resende: a escultura, a fotografia e o desenho, passando ainda por uma série de 10 pinturas nas quais se recuperam, sob a forma de estandartes e segundo um sistema de notação já por si usado anteriormente, cada um dos dias que desapareceram do nosso calendário no mês de Outubro do ano de 1582.
Na exposição de Sebastião Resende, é ainda a manualidade que surge como saída possível para a actual situação. O artista, com recurso a escassos meios – paus e vegetação seca colhidos no seu jardim – devolve ao mundo as palavras retiradas do dicionário: amanhã/ tomorrow. E assim também presta uma discreta homenagem a quem quis deixar uma secreta mensagem para os vindouros: o futuro não existe. O tempo que falta é preciso agarrá-lo já. Para que não se passem os dias à espera de respostas que porventura nunca hão-de chegar. E alguém/alguma coisa venha, na nossa vez, a fazer desaparecer uma semana, um mês, um ano das nossas frágeis vidas.
No único desenho da exposição, o artista amontoa os dez dias que deixaram de existir – sem que, de facto, tenham desaparecido. Essa compressão sobre uma folha de papel, parece destinada a ser colocada numa parede como memorial de todos os tempos roubados ao humano. Ali, todas as horas pedem para ser esculpidas, pois essa será a única forma de serem resgatadas do esquecimento. Dez anos demorou Odisseu a regressar a casa. A sua viagem continua a ecoar nos nossos corações, que também acolhem o desassossego pessoano, escrito ao longo de vinte anos.
(excerto)
Óscar Faria
Sebastião Resende tem estado activo em diversos media desde 76, nomeadamente em escultura, fotografia, desenho, pintura e edição serigráfica, tendo recebido alguns prémios em contexto nacional e internacional, o mais recente o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso. Realizou 27 exposições individuais de que se mencionam as mais recentes: “Sobre a Terra Fendida Uma Chama”, Museu da Guarda (2018), “Neste Ninho de Vespas”, Sismógrafo, Porto (2017), “Fecit Potentiam”, Sismógrafo, Porto (2014), “Sem Retorno”, Museu da Luz, Mourão (2012), “The Lying Chair”, Galeria Quadrado Azul, Lisboa (2012), “Naufrágio Pluma”, Galeria Quadrado Azul, Porto (2009), “Tem nos Olhos o Tempo Simultâneo” (2007), O Espaço do Tempo, Montemor-o-Novo, “Sem Título Tranquilo III” Galeria Quadrado Azul, Porto (2003).
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