Descripción de la Exposición
Luisa Strina anuncia a exposição Mira Schendel: Transparências, em cartaz entre 1º de agosto e 21 de setembro. A artista (1919-1988) foi uma figura pioneira na arte latino-americana, trabalhou com Strina nos anos 1980, e expôs na galeria em 1981 e 1983.
Organizada por Olivier Renaud-Clement em colaboração com a família Schendel e Hauser & Wirth, a mostra reúne uma ampla seleção de Monotipias de Schendel, produzidas entre 1963 e 1965, além de uma série de objetos escultóricos em acrílico do final dos anos 1960 e 1970. Transparências é acompanhada por um ensaio inédito do Curador Chefe do Museo del Barrio de Nova York, Rodrigo Moura.
“A transparência está no centro dessa mostra da Luisa Strina, onde Mira Schendel fez duas exposições em vida nos anos 1980. Passados quase um quarto do século 21, é inescapável perguntar qual o lugar reservado à sua obra no Brasil e no mundo de hoje, quando as questões identitárias parecem ter assumido um papel que muitos consideram preponderante na arena cultural. Schendel ressurge aqui como um farol para iluminar o caráter individual e irredutível que habita o cerne da obra de qualquer grande artista – e a transparência nos apresenta uma imagem poderosa para essa afirmação. Quem há de negar que sua identidade tenha informado sua obra – uma mulher europeia imigrante? Que a vivência da perda e da diáspora esteja por trás do seu impulso por transcendência? Que a linguagem esteja sempre prestes a desmoronar em sua obra, como só acontece com aqueles para os quais a língua nunca é uma garantia? Que seu entendimento singular do projeto moderno o empurre sempre para uma espécie de beira do precipício, por ela enxergar nele as limitações sexistas de suas aspirações hegemônicas originais?”, analisa Moura.
As mais de cinquenta Monotipias apresentadas traçam um panorama da abordagem experimental e inovadora de Schendel. Cada peça revela sua meticulosa exploração da textura, forma e translucidez, em um jogo sutil de luz e sombra.
Esses trabalhos foram extremamente experimentais na época de sua criação. Tal feitura envolve a aplicação de pó de talco em um dos lados do papel de seda japonês, que é colocado sobre uma chapa de vidro previamente oleada. Schendel "desenhava" com vários instrumentos, incluindo seus dedos, aplicando pressão no lado não oleado.
O processo criava uma linha orgânica que quase parecia parte do papel e permitia a Schendel responder gestual e caligráficamente ao material. Essas marcas gráficas, letras e manchas resultaram em desenhos extraordinariamente belos e poéticos em ambos os lados do papel, os quais são mostrados na galeria em prateleiras retroiluminadas, que preservam sua transparência.
Nas obras seguintes de Schendel, a transparência se apresenta como o catalisador da experiência do espectador com o corpo e a visão. A artista começou a usar acrílico que, suspenso no ar, permite que a imagem e o plano se desdobrem em dois: para ver através e para uma "leitura circular em que o texto é o centro imóvel, e o leitor é móvel", como afirmou a artista.
Essas formulações deram origem aos Objetos gráficos (1967-1973), nos quais folhas de papel são sobrepostas para criar quadrados onde o jogo de cheio e vazio amplifica o signo gráfico entre o silêncio e o ruído por meio da repetição e alterações na escala. Suspensas por fio de nylon, as obras da série Transformáveis são compostas por pequenas tiras de material transparente articuladas para evocar a sensação de mutabilidade e jogo. Elas giram no ar, projetando sombras e reflexos em constante mudança.
Também incluídas na exposição estão obras da série Discos, do início dos anos 1970, quando Schendel começou a criar objetos escultóricos usando acrílico e letraset. Sintetizando a experimentação formal das Monotipias, este conjunto de obras continuou a abraçar ideias espirituais sobre o "outro lado" da transparência, um lugar onde outros mundos e outras formas de materialidade existiam.
Os discos redondos são feitos de lâminas de acrílico sobrepostas. Eles envolvem turbilhões de letras e símbolos em letraset, legíveis, mas composições intraduzíveis. Aqui a linguagem é vista como uma espécie de poeira cósmica, informe e infinita.
“Mira Schendel é fundamental para o debate artístico atual. Embora enraizada na experiência, sua obra refuta as leituras redutoras de identidade, mas também cada vez mais se mostra refratária a uma interpretação formal strictu sensu. Talvez, sob a lente da transparência, este seja seu traço mais marcante”, finaliza Rodrigo Moura.
Sobre Mira Schendel
Mira Schendel é uma das artistas mais significativas da América Latina no século XX.
Nascida na Suíça em 1919, Schendel emigrou para o Brasil da Europa em 1949, estabelecendo-se definitivamente em São Paulo em 1953, onde rapidamente ocupou um lugar de destaque na vibrante cena artística pós-guerra do país. Atravessando os domínios da pintura, desenho e escultura, inspirando-se em uma constelação de fontes tão diversas como a Poesia Concreta, a semiótica, a fenomenologia, a tradição épica, o Budismo Zen e aspectos da filosofia oriental e ocidental, o prolífico corpo de obras de Schendel provocou um novo léxico radical de práticas de vanguarda no Brasil.
O poeta brasileiro Haroldo de Campos descreveu o espírito de seu trabalho como "uma arte dos vazios", onde "o máximo de redundância começa a produzir informações originais; uma arte de palavras e quase-palavras onde a forma gráfica vela e revela, sela e desentranha... Uma arte semiótica de ícones, índices, símbolos que imprimem na página em branco sua espuma luminosa."
Nascida em Zurique em uma família de origem judaica, Schendel foi batizada e criada como católica na Itália. Em 1938, enquanto estudava filosofia na Universidade Católica de Milão, Schendel foi perseguida por sua herança judaica. Forçada a abandonar seus estudos e cidadania, Schendel procurou asilo na Iugoslávia antes de passar pela Suíça e Áustria (com a intenção inicial de se estabelecer em Sofia, Bulgária), e finalmente se estabeleceu no Brasil. Esta história é vital para a sensibilidade espiritual subjacente à poética do trabalho de Schendel, bem como para suas investigações particulares sobre a linguagem e suas encarnações materiais. Embora Schendel tenha recebido reconhecimento considerável durante sua vida, desde sua morte em 1988, seu trabalho continuou a alcançar visibilidade nacional e internacional, consolidando seu status como uma das vozes artísticas mais importantes de seu tempo.
Sobre a galeria
Fundada em 1974, a Luisa Strina ajudou a promover as carreiras de uma geração de novos artistas conceituais do Brasil, incluindo Antonio Dias, Cildo Meireles, Tunga e Waltercio Caldas. Em 1992, a galeria foi a primeira da América Latina a participar da feira Art Basel.
Luisa Strina começou a trabalhar com artistas brasileiros emergentes, como Alexandre da Cunha, Fernanda Gomes e Marepe. Ao longo dos anos 2000, o grupo foi ampliado para incorporar nomes latino-americanos — Carlos Garaicoa, Jorge Macchi, Juan Araujo e Pedro Reyes — e artistas mulheres já estabelecidas, como Laura Lima, Leonor Antunes e Renata Lucas. Na última década, consolidou a sua trajetória com a representação de nomes influentes incluindo Alfredo Jaar e Anna Maria Maiolino, assim como artistas mais jovens, como Bruno Baptistelli e Panmela Castro.
Exposición. 02 oct de 2024 - 31 dic de 2024 / Museo de Bellas Artes de Bilbao / Bilbao, Vizcaya, España
Formación. 15 oct de 2024 - 30 jun de 2024 / Museo Nacional Thyssen-Bornemisza / Madrid, España