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Cão

Exposición / Galeria Pedro Oliveira / Calçada de Monchique, 3 - 4050-393 Porto / Oporto, Porto, Portugal
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Cuándo:
27 oct de 2017 - 09 dic de 2017

Inauguración:
26 oct de 2017 / 22:00

Precio:
Entrada gratuita

Organizada por:
Galeria Pedro Oliveira

Artistas participantes:
André Cepeda
Etiquetas
Fotografía  Fotografía en Porto 

       


Descripción de la Exposición

Comecemos pelo título da exposição: “Cão”. É simultaneamente sugestivo – fez-me recordar automaticamente vários livros e músicas – e, na sua absoluta resistência à descrição – as imagens de André Cepeda aqui apresentadas não mostram qualquer canídeo –, é sintomático das ausências, da singular utilização do fora-de-campo que, como veremos, distinguem a prática do fotógrafo. O cão, talvez o mais antigo animal domesticado, corresponde a metade do nome de uma banda de rock portuguesa, formada em Braga, em 2001, com voz do actor Pedro Laginha e letras de Adolfo Luxúria Canibal: Mundo Cão. E aqui, no nome de uma banda obscura, pode começar uma possível história do “melhor amigo do homem” como símbolo dos marginais, deserdados e oprimidos. Esta história pode continuar com livros de Virginia Wolf e de Paul Auster: a primeira escreveu uma biografia imaginária da cocker spaniel da poetisa inglesa da época vitoriana Elizabeth Barrett Browning, Flush: Uma Biografia (1933), que é vista como uma dura crítica às formas de vida citadina e ao estatuto menor atribuído a mulheres intelectuais e escritoras nos século XIX e inícios do século XX; já Paul Auster descreve no romance Timbuktu (1999) a história da amizade entre dois vagabundos, um canídeo e o outro humano – Mr. Bones e o poeta indigente Willy, dois deserdados sociais, dois perdidos no território hostil do pragmatismo americano. É o próprio Auster quem em entrevistas da altura fala do “cão como emblema dos oprimidos”. As fotografias de Cepeda, principalmente aquelas que fez na cidade do Porto, também podem ser vistas como um “emblema dos oprimidos”, pelo menos dos invisíveis. Quando estava a preparar a exposição, o André Cepeda escreveu-me um e-mail em que dizia: “Comecei a pensar e a escolher imagens e nomes, e o nome que gostaria de dar a esta exposição é ‘Cão’... tanto pelo som da palavra como pela força e atitude, olhar, e visão e reflexão sobre o mundo, a cidade, as ruas... estas imagens foram feitas em 2016 e 2017. Podia estar aqui a falar sobre as imagens, mas como diz e bem o [William] Eggleston, não se fala sobre fotografia, as imagens já dizem tudo.” Pode ser que não se fale sobre fotografia, mas as poucas palavras de Cepeda são bastante elucidativas quanto à sua prática, que é de facto uma “visão e reflexão sobre o mundo, a cidade, as ruas”. Que essa visão seja associada à perspectiva do cão que vagabundeia pela cidade recorda-me a tirada filosófica do personagem do engraxador de sapatos do filme Gilda (1946), que às tantas afirma ter um ponto de vista privilegiado sobre a realidade: o ponto de vista do verme. As imagens apresentadas em “Cão” dividem-se entre fotografias de pessoas, fotografias de detalhes arquitectónicos e fotografias de vegetação. Comecemos pelos melhores amigos do cão: André Cepeda, quando ainda vivia e trabalhava no Porto – o artista mudouse recentemente para Lisboa –, frequentava vários edifícios devolutos da cidade ocupados por gente nas franjas da sociedade. Um destes prédios estava localizado suficientemente perto do seu estúdio para que visitas frequentes dessem origem a uma relação de verdadeira cumplicidade com os ocupantes. Cepeda fotografou dois destes “ocupas” enquanto conversavam e se abraçavam, com a descontracção perante a câmara, ou o esquecimento de que estavam a ser fotografados, que apenas o convívio cúmplice permite. Estes retratos, que podem ser associados à imagem, também integrada na exposição, de uma fumadora, conferem uma certa gravitas a figuras tão esquecidas quanto Willy. Note-se, no entanto, que o artista é particularmente atento à eleição dos formatos das suas imagens, nunca optando pela monumentalidade – que atribuiria automática mas forçadamente importância, presença a motivos desintegrados, deserdados, precários. As fotografias de André Cepeda têm dimensões justas, que ao mesmo tempo que nos permitem analisar detalhes, reconhecer subtilezas cromáticas, confirmar a sofisticação da montagem (do enquadramento), percepcionar as imagens com o corpo enquanto nos aproximamos e afastamos, nunca caem nas armadilhas de um certo pictorialismo ou espectacularidade. Quanto aos fragmentos arquitectónicos, eles devolvem-nos uma imagem do Porto em perfeito desalinho com o facto de ter sido a cidade eleita por três vezes consecutivas como o melhor destino turístico europeu. Estas fracções frequentemente em ruína, precárias e sujas, são apresentadas a uma distância muito particular, que nunca nos permite perceber exactamente o contexto em que se inserem. Cepeda é exímio na utilização do fora-de-campo – a atribuir igual importância àquilo que vemos e não vemos nas fotografias. O espaço das suas imagens é tudo aquilo que é e não é abrangido pela objectiva, os alguéns e coisas que estão dentro e fora de campo. Isto “vê-se” bem nas fotografias de vegetação, que tanto podem corresponder a parques tratados e luxuriosos como a terrenos baldios e abandonados onde plantas puderam nascer e crescer de forma selvagem, desordenada. A “força e atitude” do cão, e das imagens que compõem a exposição, a que se refere André Cepeda no já citado e-mail, devem ser relacionados com a atitude do fotógrafo, que, apesar dos seus amplos conhecimentos técnicos e sobre a história da fotografia, imprime às suas imagens uma espécie de urgência, de reivindicação pelo premeditadamente amador, pelo espírito punk e DIY [faça você mesmo] que também se encontra no projecto musical Mundo Cão ou na absoluta tensão – para continuar as referências caninas – presente no filme Cães Danados (1992) de Quentin Tarantino. Ricardo Nicolau


Entrada actualizada el el 03 nov de 2017

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André Cepeda. Cão

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