Exposición en Lisboa, Portugal

Diorama. Alexandre Farto aka Vhils

Dónde:
Vera Cortês Art Agency [ESPACIO CERRADO] / Av. 24 de Julho, 54, 1º E / Lisboa, Portugal
Cuándo:
01 jun de 2012 - 08 sep de 2012
Inauguración:
01 jun de 2012
Organizada por:
Artistas participantes:
Descripción de la Exposición
La galería permanece cerrada desde el 28 de julio al 4 de septiembre.

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Na arquitectura actual habita um certo deslumbramento pelo tempo e pelo espaço, em que tudo parece acontecer em todo o lado, quase em simultâneo. O efémero e transitório ergue-se como protagonista do estado fluido de uma vida que muda constantemente de pele na ânsia pelo novo. Nada parece vincular-se a um lugar concreto e há muito que as cidades deixaram de ser um lugar estável ou de ter uma forma claramente determinada. E muito menos um movimento coerente. Crescemos mal e rápido demais. O suburbano transbordou e a cidade desapareceu enquanto unidade. Como na arte, uma realidade substitui outra, ocultando coisas, deixando de mostrar alguns fragmentos.

 

Perante esta situação, muitos artistas trataram de reflectir sobre como este meio urbano nos influencia na formação da nossa identidade, seja ... ela individual ou colectiva. E também sobre a sua condição de suporte para a protecção das nossas utopias e aspirações. De entre eles, poucos conseguiram apreender como Alexandre Farto, também conhecido por VHILS, esse estado turbulento na sua obra, destilando essas reflexões sobre o mutante a partir de uma obra capaz de manobrar e expressar-se com uma potência plástica esmagadora.

 

Tendo o graffiti como a sua primeira base artística, Alexandre Farto encontrou no stencil uma ferramenta capaz de abrir novos caminhos e uma versatilidade capaz de expandir as possibilidades do desenho e do pictórico a diferentes contextos, primeiro a partir de cartazes arrancados na rua para trabalhar a sua transformação e, mais tarde, trabalhando diversas possibilidades de desocultação e revelação, tal como a escavação de paredes ou, nesta segunda exposição individual na Agência de Arte Vera Cortês, a partir de rostos formados por planos de cidades que mostram a insustentabilidade do seu desenvolvimento descontrolado das últimas décadas.

 

Tal como nos seus murais, na série Diorama o artista justapõe duas realidades tão abstractas como figurativas na sua descontextualização. Algo como uma turbulência que sujeita a ciência a ligações aleatórias de todo o tipo entre diversas áreas. A ciência avança a partir do imprevisível e do inesperado. Como na obra de Farto, a ciência desafia o bom sentido e a rígida ordem convencional para propor a desordem da poesia, ou seja, o acaso e a excepção. A sua obra funciona como um turbilhão, como preordenação das coisas e é capaz de funcionar como ordem sobre a desordem. Neste caso, a ordem proposta pelo artista implicaria um fôlego de humanidade. Notamo-lo nos desenhos dos seus murais, onde o desocultar é um exercício de memória, que emerge através da forma e do conceito. Se numa cidade as pessoas se dissimulam perante a monumentalidade das suas próprias criações, a artista procura potenciar o contrário, que essa matéria sem vida não diminua os seus criadores que emergem com uma monumentalidade capaz de competir na Diorama Alexandre Farto AKA Vhils sua visibilidade com o paradoxalmente desumano dessas arquitecturas. É como se esses restos, ainda que fazendo parte do público, da memória urbana, fossem uma espécie de ruína do íntimo, para além de uma espécie de ruína histórica. Assim como se quisesse dar razão a Ernst Jünger quando este afirma que é nos resíduos que hoje em dia se encontram as coisas mais proveitosas.

 

Como em quase todas as suas obras, o mais interessante da série Diorama encontra-se na habilidade manobrar os tempos de recepção do espectador. O primeiro momento, muito visível, mas vinculado à técnica, ao método. O seguinte, mais subtil, tem mais a ver com o processo e com o tempo, com a desconstrução destrutiva daquilo que flui como resto de um modo natural. É, por isso, uma interrupção da realidade em si, do seu tempo e do seu espaço. Mas o jogo de ancas não é necessariamente uma ruptura da sua continuidade. Seria mais uma elipse ou essa necessidade contemporânea de acidentar, de transformar em fragmento. No caso de Alexandre Farto o acontecimento tem lugar na acidentalidade, no preciso instante do impacto, da eclosão. Como a grande estrutura imersa do iceberg; só à distância e na perversão de um olhar sublimado atendemos à dramaturgia da cena, mas também à sua humanização, à sua possibilidade íntima.

 

Alexandre Farto confessa por vezes ter presenciado na infância a dissimulação paulatina da publicidade capitalista sobre os velhos murais políticos nas ruas de Lisboa. Essa ambivalência visual entre o decadente e a ostentação serve de precedente real para um trabalho que é, na sua essência, arqueológico, na medida em que omite diferentes ruídos temporais que permitem a emergência da memória. Essa deriva até à destruição como possibilidade construtiva, como refundação, leva-me a pensar em escritos como os de Marguerite Yourcenar e no tempo como o grande escultor de uma matéria accionada pelo tempo. Também na sensação de estar imerso numa busca que nasce do mesmo apagamento, como um graffiti em forma de palimpsesto, que em grego significa 'raspado de novo'.

 

Chama-se palimpsesto ao manuscrito que conserva marcas de outra escritura anterior na mesma superfície, ainda que apagada expressamente para dar lugar àquela que agora existe. Alexandre Farto parte do acto contrário, e fá-lo dando espaço ao acaso, àquilo que não se pode controlar de todo, em suma, para que o tempo actue.

 

Desconheço se Antonioni faz parte das suas preferências, mas tudo isto evoca a essência do seu cinema, esvaziando o plano, saturando-o, fazendo desaparecer personagens, criando espectros em espaços órfãos de presença e tornando densa a ausência. Nada mais claro que um eclipse. Que implica uma janela. Movimento congelado, situação sem acção. Alexandre Farto, tal como Antonioni, defende o transitório da existência, a precariedade, o desgaste do resto. O residual serve de motor para reclamar a habitabilidade dos espaços, esses espaços ocos ou vazios dos quais fala Bachelard; o desolador. Essa natureza efémera do residual das ruas de uma cidade fala-nos metaforicamente da gente que por lá passa, do seu estado de espírito virtual.

 

Nesse sentido, é significativo que Alexandre Farto complete esta exposição com três obras realizadas nas ruas de Lisboa. É uma exposição do acaso, da demolição social que permanece, quase sempre, invisível. Mas, acima de tudo, é uma forma de significar a arte como processo crítico real, como lugar para a confrontação, como evidência simbólica da perda e da nossa impossibilidade de acompanhar as transformações.

 

 

 
Imágenes de la Exposición
Alexandre Farto aka Vhils at Alfama

Entrada actualizada el el 26 may de 2016

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